São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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Fúria da Terra

MARTA AVANCINI
DE PARIS

Melhorar as técnicas de análise das erupções vulcânicas é um dos desafios que persiste para a vulcanologia, apesar dos progressos realizados nos últimos 20 anos.
Esta é a avaliação do geólogo Jean-Christophe Komorowski, diretor do Observatório Vulcanológico do Soufrière de Guadalupe.
Localizado em Basse-Terre, na ilha de Guadalupe, o observatório é um centro que monitora a atividade sísmica nas Antilhas. Ele reúne 11 pesquisadores ligados ao Instituto de Física do Globo, da Universidade de Jussieu, em Paris.
Leia, abaixo, a entrevista que Komorowski concedeu à Folha por telefone na última terça-feira.
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Folha - Além dos danos já provocados pela erupção do vulcão Soufrière de Montserrat, podem ocorrer fatos mais graves?
Jean-Christophe Komorowski - A ilha é muito pequena, tem cerca de 12 km de comprimento por 7 km de largura. Os vales foram preenchidos pelo material incandescente que destruiu a cidade de Plymouth. O quadro decorrente da erupção é de risco também para a aviação civil. As cinzas que o vulcão joga na atmosfera são perigosas para os aviões. Elas são fragmentos de rocha e podem interromper o funcionamento do avião se elas se fundirem com a superfície das turbinas.
Folha - A erupção do Soufrière foi prevista?
Komorowski - Percebemos um aumento da atividade sísmica na região desde 1992. O vulcão acordou (voltou à atividade) em 18 de julho de 95, quando ocorreram as primeiras explosões e a formação de crateras. Pouco a pouco, o magma começou a subir. Sabíamos que uma erupção era possível.
Uma vez que o vulcão "acorda", há uma série de procedimentos que são adotados para medir o volume de sua atividade física e química. É como se acompanhássemos o estado de saúde de um doente. Medimos o pulso, o ritmo do vulcão, avaliamos os tipos de substâncias que existem nele e traçamos a linha de base de atividade, que funciona como referência.
Se o nível de atividade se afasta dessa linha, é possível criar uma "janela do vulcão", que permite prever quando a erupção vai ocorrer. As explosões foram mais ou menos previstas porque percebemos que existia um ciclo de aumento da atividade do vulcão a cada 10 ou 12 horas.
Folha - As técnicas de previsão de erupções são eficazes?
Komorowski - Os progressos foram enormes nos últimos 20 anos. Há técnicas que permitem determinar com boa probabilidade de acerto o risco de uma erupção. Mas não podemos dizer a data ou a hora exatas. Sobretudo, não dá para prever exatamente o tipo de erupção. Por exemplo, em Montserrat a saída de magma à superfície pode provocar diversos tipos de fenômenos distintos. Podem ocorrer ebulições ou projeções de fragmentos de magma. Elas podem acontecer durante várias horas ou de uma única vez. Podem ocorrer explosões ou tudo ao mesmo tempo. A previsão disso tudo é o que precisamos melhorar na vulcanologia.
Folha - Como se define um vulcão extinto?
Komorowski - Todo vulcão que não teve atividade em 10 mil anos é considerado extinto. Mas há vulcões que têm uma única erupção, chamados monogenéticos. Os grandes vulcões que existem nos Andes, nos Estados Unidos e no Japão são poligenéticos, têm diversas fases de atividade.
O Soufrière estava inativo havia cerca de 400 anos.
Folha - O que há de mais perigoso nos vulcões?
Komorowski - Eles são a expressão de forças e de uma energia da natureza muito poderosas. O homem não controla esse fenômeno, assim como os tufões e as avalanches. Por isso estudamos o passado eruptivo de um vulcão. É o único jeito de prever o futuro e de explicar às pessoas os riscos. No caso do Soufrière, o vulcão estava coberto por uma floresta tropical e aparentemente não representava uma ameaça.
Folha - Existem relações entre as erupções recentes no México, no Havaí e em Montserrat?
Komorowski - Não há nenhuma relação. Mas elas são testemunham como fenômenos internos da Terra podem liberar quantidades de energia fantásticas.

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