São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O exílio americano

JORGE ALMEIDA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em julho de 1933, após um longo período de perseguições e ameaças, o Instituto de Pesquisa Social, dirigido por Horkheimer em Frankfurt, é declarado hostil aos interesses do Estado e fechado por ordem direta da Gestapo. Praticamente todos os membros do instituto partem para o exílio.
Horkheimer é o primeiro a emigrar para os Estados Unidos, onde coordena os esforços para a sobrevivência do instituto fora da Alemanha. A continuidade da publicação de sua revista e um amplo projeto de estudo sobre o anti-semitismo e o nazismo conseguem reunir novamente os diversos colaboradores.
Após alguns anos em Oxford, Adorno parte em 1938 para Nova York, convidado por Horkheimer para assumir a coordenação musical do ambicioso "Radio Research Project", de Princeton (EUA), dirigido por outro antigo colaborador do instituto, o vienense Paul Lazarsfeld.
A experiência do exílio e o contato com as ambiguidades da sociedade americana são fundamentais para a consolidação das idéias desenvolvidas na "Dialética do Esclarecimento". O choque do intelectual europeu com o estilo de pesquisa empírica dominante nas universidades americanas leva tanto a uma reflexão sobre o destino histórico da "cultura" do Velho Mundo quanto a uma crítica da mentalidade positivista subjacente ao lema "science is measurement".
Em um relato posterior sobre essas dificuldades ("Experiências Científicas nos Estados Unidos", publicado no Brasil no volume "Palavras e Sinais", 1995, Ed. Vozes), Adorno comenta: "Já que eu estava confrontado com a exigência de mediar a cultura, como se dizia literalmente, tomei então consciência de que a cultura constitui precisamente esse estado que exclui uma mentalidade que possa medi-lo".
No início de 1941, Adorno muda-se para Los Angeles para trabalhar com Horkheimer no projeto que levará à publicação, em 1944, da primeira versão da "Dialética do Esclarecimento". Em contato com outros intelectuais europeus exilados, ambos aprofundam a reflexão sobre o papel da arte e da cultura em um mundo marcado pela barbárie.
O "Doutor Fausto", de Thomas Mann, incorpora várias das teses presentes na "Dialética do Esclarecimento". O demônio que aparece ao personagem Adrian Leverkühn assume a face de Adorno, e, com ela, a certeza de que só a autocrítica radical do Esclarecimento pode levar ao cumprimento de suas promessas de libertação.

Texto Anterior: A alternativa alemã
Próximo Texto: Livro é tema de encontro
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.