São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo privilegia católicos, diz Universal

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

O jornal "Folha Universal", da Igreja Universal do Reino de Deus, traz na edição dessa semana reportagem com críticas às isenções fiscais que o governo está dando para empresas que contribuem com a visita de João Paulo 2º ao Brasil, em outubro.
A reportagem, intitulada "Governo católico privilegia o papa", ironiza a suposta proteção que o governo daria à Igreja Católica.
A legenda da foto do papa que ilustra o texto diz: "Para o papa, tudo. Para os evangélicos, discriminação". É um trocadilho com o título de capitalização Papa Tudo.
O primeiro parágrafo do texto afirma: "Os fatos que envolvem a visita do papa são, no mínimo, lamentáveis, pois neles estão contidos protecionismo, discriminação e cheiro de troca de favores com o governo". O jornal tem tiragem de 1.063.000 de exemplares.
A reportagem afirma ainda que a visita do papa tem o objetivo de "salvar o que puder para a decadente Igreja Católica" e que estão sendo utilizados recursos "sujos, como este de apresentar a visita do líder católico às empresas como um bom negócio e não apenas um evento religioso".
As críticas da Universal, igreja liderada pelo bispo Edir Macedo, se concentram na isenção de impostos às empresas que participarem do financiamento da visita por meio da Lei de Incentivo à Cultura.
"E para quem colaborar, além da dedução irregular de impostos com aval do governo federal, a promessa de um encontro com o papa. Não dá para aceitar", diz.
Segundo o bispo Carlos Rodrigues, coordenador político da Universal, esse favorecimento seria resultado da pressão de assessores católicos sobre o presidente Fernando Henrique Cardoso.
"O presidente é ateu, mas está cercado de católicos que o influenciam, como o chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho, e o vice-presidente Marco Maciel", diz Rodrigues.
O bispo reclama ainda do tratamento desigual dado pela mídia à Igreja Católica em relação às outras religiões. "Quando nós pedimos dinheiro, somos acusados de mercantilistas. Quando são os católicos, todo mundo se curva."
Rodrigues criticou ainda a reforma de igrejas, pagas pela Prefeitura do Rio de Janeiro, que estão na rota da passagem do papa pela cidade. "Ainda permitiram o corte de árvores para facilitar a aterrissagem do helicóptero do papa, um atentado à ecologia", completou.
Segundo Rodrigues, a Universal planeja realizar atos na mesma época da visita do papa. "Não queremos competir com a visita, apenas registrar nossa posição."
Outro lado
O bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio d. Karl Romer, um dos organizadores da visita do papa, não quis comentar a reportagem e as acusações do bispo Rodrigues.
"No mundo inteiro até os não-católicos vêem a visita do papa com alegria e profunda gratidão. Não vou responder nada sobre tais atitudes. Não se pode entender que alguém seja capaz de falar uma coisa dessas", disse.
O bispo diz não compreender "que alguém de bom senso possa ter uma atitude dessas diante desse evento, que só procura a paz e conforto espiritual para todos".

Texto Anterior: Alas buscam maioria nas chapas
Próximo Texto: Dois papamóveis devem chegar hoje ao Brasil
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.