São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 1997
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Policiais pedem mais estrutura

MAURO TAGLIAFERRI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Civil do Estado mais rico do país está desaparelhada. Nos Estados menos abonados, ela praticamente inexiste.
Segundo o presidente do Sindicato dos Investigadores do Estado de São Paulo, Lourival Carneiro, a maior queixa de seus representados, além dos salários, é a falta de material básico para trabalhar.
Na região do Vale do Paraíba (nordeste paulista), diz ele, faltam armas, munição, coletes à prova de balas e luvas para contato com prisioneiros feridos. A manutenção dos veículos só é feita com a cortesia das concessionárias e não há recursos para a reposição de peças e pneus.
"A situação é generalizada. Na capital, há agentes que ingressaram na polícia em 1994 e, até agora, não receberam armamento para trabalhar. Eles têm de comprar revólveres com o próprio dinheiro, até mesmo para poder defender a vida durante uma ocorrência", diz Carneiro.
Ele aponta também a escassez de filmes fotográficos e material para análises químicas no Instituto de Criminalística, onde atua a polícia científica do Estado.
A Secretaria da Segurança Pública rebate afirmando que há material, e o que não existe, por parte da polícia, é o hábito de planejar as suas necessidades administrativas.
Também diz que já abriu licitação para a construção de um laboratório para a análise de DNA (carga genética).
E acrescenta que o governo Mário Covas já comprou e entregou 2.600 veículos para a Polícia Militar e 1.518 para a Polícia Civil.
Mas mesmo essas aquisições são alvo de críticas. Para Lourival Carneiro, os carros dos investigadores não poderiam ser identificados como pertencentes à polícia. "Como fazer uma campana ou perseguição discreta com um carro pintado de preto e branco?", pergunta.
No resto do país a situação piora. Em muitos Estados do Norte e Nordeste, como Amazonas, Pará, Rio Grande do Norte, Maranhão, Alagoas e Sergipe, as Polícias Civis só funcionam, dirigidas por delegados de carreira, nas capitais.
"Em razão da falta de estrutura e de delegados, no interior desses Estados há policiais militares comissionados para a Polícia Civil", conta o presidente do Conselho Nacional dos Chefes de Polícia, Manoel Carneiro.
Na opinião dele, falta decisão política para a implantação integral das Polícias Civis. "Em certos casos, fica mais fácil para os governantes exercer influência sobre quem não exerce o cargo de maneira definitiva. A PM não está preparada para investigar."
Além das deficiências materiais, Manoel Carneiro reclama da falta de cursos para a formação de profissionais e do pouco conhecimento técnico dos dirigentes na área de planejamento.
"A Polícia Civil passa por uma crise gerencial. Como não consegue investigar nada, utiliza meios ilegais, como a tortura e a corrupção, para mostrar resultados", diz Oscar Vieira, secretário-executivo do Ilanud (Instituto Latino-Americano das Nações Unidas Para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente).
Em relação à Polícia Militar de São Paulo, as maiores queixas se concentram na área salarial.
Uma pesquisa conduzida pelo comando da instituição sobre o perfil de seus cabos e soldados coloca 99% deles nas classes D e E, as mais baixas da pirâmide social. O levantamento mostra que 56% dos PMs estavam desempregados ao entrar para a corporação, 23% se locomovem a pé ou pedem carona e 61% não possuem casa própria.
Por isso, o policial seria obrigado a arrumar uma outra ocupação -o "bico", ilegal- para as horas de folga.
A Secretaria da Segurança refuta esses dados. Com o aumento que passou a vigorar neste mês, o salário-base de um aluno do curso preparatório da PM (o menor vencimento da instituição) é de R$ 479,40, o que não os relegaria a uma camada social tão baixa.
Os PMs costumam reclamar também da obsolescência de seu armamento, o que os forçaria, a exemplo dos policiais civis, a adquirir os próprios revólveres.
Quanto aos 8.876 veículos usados no policiamento, 1.773 estão fora de atividade, com a vida útil esgotada. Além disso, a legislação estabelece que a PM deve ter 10 mil veículos para tal fim.
Segundo a secretaria, está em licitação a compra de 7.500 revólveres e pistolas e de munição suficiente para que os policiais dêem, como treino, 50 tiros semestrais (1 tiro a cada 3,6 dias).

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