São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 1997
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Tráfico usa garotas para atrair comprador

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Uma inovação movimenta o tráfico de drogas no morro do Engenho da Rainha (zona norte do Rio). O "chefão" da favela, Jorge Boquinha, usa adolescentes bonitas e com pouca roupa para vender cocaína e maconha.
Desde o início do mês, três jovens do Engenho da Rainha foram presas pela DRE (Divisão de Repressão a Entorpecentes) da Polícia Civil, por suposto envolvimento na venda de drogas: M.S., 17, M.V.S., 16, e S.P.S., 16.
A estratégia de Jorge Boquinha tem como objetivo aumentar a clientela das "bocas" de cocaína e maconha da favela. A idéia de substituir seguranças armados com fuzis e granadas por meninas vestidas com shorts e miniblusas é considerada um sucesso.
As três menores presas não aceitaram prestar depoimento, mas, em conversas informais com os policiais, revelaram parte do esquema montado pelo tráfico.
M.V.S. e S.P.S foram presas juntas na terça-feira da semana passada. Cada uma delas carregava, segundo a polícia, uma carga de cocaína (120 papelotes) e outra de maconha (120 trouxinhas).
O morro do Engenho da Rainha tem dez "bocas" espalhadas por quatro acessos, pelos bairros de Inhaúma, Pilares e Engenho da Rainha. Trabalham 15 meninas nos dez pontos-de-venda.
As garotas têm a tarefa de receber o cliente. Elas recebem dos traficantes orientação para puxar conversa, para que a droga seja consumida ali mesmo, obrigando o usuário a fazer nova compra.
"O cara vai comprar, vê a chance da paquera, fica por ali e compra mais três ou quatro papéis. Quando desce, fala para os amigos, que vão escolher aquela 'boca'. O uso de meninas dificulta a ação policial. Como vamos revistar uma adolescente? É mais complicado", disse César Borges.
O dinheiro é o principal atrativo para as meninas participarem do tráfico de drogas. Cada uma delas pode ganhar até R$ 2.000 por semana. A carga de cocaína vale R$ 600 (o papelote custa R$ 5), dos quais R$ 50 são para a vendedora. Da manhã de segunda à tarde de sexta, elas vendem uma média de quatro cargas diárias.
A maconha e a cocaína são vendidas simultaneamente. A carga de maconha vale R$ 120 (a trouxinha custa R$ 1). A vendedora recebe R$ 10 por carga. A média de venda da maconha é a mesma da cocaína.

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