São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 1997
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Poladian aposta que 'Acústico' vende 3 mi

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há mais de dez anos que Manoel Poladian, 53, empresário artístico, não fala à imprensa. "Os artistas são importantes, não eu", diz.
Figura polêmica do showbiz brasileiro, com fama de explorar seus contratados até a última gota, o veterano empresário arrebata-se diante dos novos troféus, a recontratação de Rita Lee e a volta por cima dos Titãs, com "Acústico".
Ele se considera o oitavo "titã", já que participa, junto com os sete integrantes, das decisões sobre o futuro da banda.
Poladian é pé-quente. Na explosão do rock nacional queria a Blitz e acabou ficando com o então desconhecido RPM. Na explosão do axé music, foi atrás do Chiclete com Banana, mas excogitou a incógnita Daniela Mercury.
Defensor da lógica que dita que bom marketing não vende produto ruim, e um produto bom pode ser ignorado se não houver bom marketing, seu pé-quente tropeça algumas vezes em pedras de gelo: já amargou alguns fracassos, como o último trabalho com Ben Jor.
Advogado e ex-líder estudantil comunista (foi filiado ao PCB até 1965), Poladian está no ramo há 35 anos.
Começou promovendo festivais na faculdade Mackenzie. Trouxe para tocar pela primeira vez em São Paulo Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa.
Já trabalharam com ele Simone, Ney Matogrosso, Elba Ramalho, Ivan Lins, Elis Regina, Toquinho, Gonzaguinha, Djavan, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, João Gilberto, entre outros. Faltou citar Roberto Carlos, com quem Poladian esteve por mais de duas décadas -chegou a ser considerado a sombra do Rei.
Responsável pela profissionalização do mercado de shows no Brasil, já trouxe ao país Village People, Billy Paul, Nina Hagen, Bill Haley, Pepino di Capri, Dave Brubeck e Julio Iglesias.
Erra quem aponta o RPM como sua maior fonte. Foi o espetáculo de tango "Una Noche en Buenos Aires" (400 espetáculos com casa cheia, segundo ele) que lhe deu mais lucro. Leia tópicos da entrevista que concedeu com exclusividade à Folha.
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OS TITÃS - "São extremamente competentes. Sempre quis que fizessem um trabalho mais comercial. Quando resolveram fazer rock mais pesado (o disco "Cabeça Dinossauro"), não dava para continuar com eles. Titãs é o maior grupo de rock do Brasil, sete cabeças fantásticas. O "Acústico", a gravadora fala em vender 1 milhão. Eu aposto em 3 milhões. Eles não dormiram sobre o berço das músicas antigas. Compuseram novas."

MATURIDADE - "Há artistas que deixam de trabalhar comigo e depois voltam. Sempre fui muito amigo dos Titãs, Rita Lee, Roberto Carlos. Sou o oitavo "titã" e o terceiro "Rita Lee". Você vai ficando velho e passa a ouvir mais. Eu era um pouco autoritário antigamente. É muito difícil você ter a mesma postura a vida toda. Todo jovem já foi comunista e deixa de ser porque tudo é um engodo."

O MITO - "Há muita lenda, muita mentira a meu respeito. Eu não me exponho publicamente. Chego no trabalho às 6 da manhã e saio às 10 da noite. Quando você é um vencedor, tem inimigos. Há oito anos, só trabalho com artistas que me dão prazer e jamais falarei mal de quem trabalhou comigo."

SOVINICE - "Existe muita desinformação. Eu sou empresário e promotor. Monto os shows, pago do meu bolso anúncios, pago o transporte de equipamento, o pessoal técnico. Sabe que um técnico de som, sem escolaridade, ganha R$ 600 por noite? Quando o músico está sem dinheiro, eu dou um salário. No começo, os meninos do RPM - eram contratados como funcionários da minha empresa. Ganhavam US$ 1.000 por mês. Nos primeiros seis meses eu só tinha prejuízo."

RPM - "Na época do rock nacional, eu quis contratar a Blitz. Eles não quiseram. Tentei o Legião Urbana, o Ultraje a Rigor e os Paralamas. Nada feito. Foi então que o Ney (Matogrosso) me falou do RPM. A gravadora esperava vender 15 mil cópias. Mudei todo o esquema, cancelei shows. Organizei shows em ginásios."

FARO - "Com a música baiana, quis contratar o Chiclete com Banana. O grupo não quis. Então, trouxe para São Paulo uma baiana que ninguém conhecia, Daniela Mercury. Prefiro trabalhar com a música que gosto. E só trabalho com músicos contratados por gravadoras e com discos lançados."

RITA LEE - "O disco novo da Rita Lee ("Santa Rita de Sampa") é uma obra-prima. Ao lado dela, há uma pessoa de grande talento que é o Roberto de Carvalho. Ela e o Paulo Ricardo são os maiores letristas do Brasil."

DINHEIRO POR FORA - "No nosso negócio não existem luvas. O bom empresário ganha percentual do lucro que consegue trazer ao artista. Já houve, no passado, gente pagando por fora, mas era dinheiro de origem duvidosa."

JABACULÊ - "O jabá (taxa supostamente cobrada para execução de músicas em rádios e TVs) é imediatista e desaparece. É como a corrupção. No mundo todo existe jabá. Em jamais paguei. Mas é ignorância das gravadoras. Você compraria um disco que toca na rádio e você não gosta? O povo é sábio."

BRASIL - "Toda vez que eu fazia show no Rio, sempre tomava prejuízo. Eu não conseguia conquistar aquele público. No Nordeste, a dificuldade é que há um certo regionalismo. Mas não é difícil fazer show se a música faz sucesso."

ESTRATÉGIA - "Primeiro, tem que convencer o artista que ele tem que ralar e trabalhar. Daniela Mercury é uma das artistas mais completas nesse sentido. Muitas vezes, faço sacrifícios sem ganhar nada. Produzo um bom show, marco muitas entrevistas na televisão, visitas a rádios, apresentações em feiras."

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