São Paulo, sábado, 30 de agosto de 1997
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Senadores ignoram imóveis funcionais

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Enquanto mantém 14 apartamentos funcionais desocupados, o Senado paga auxílio-moradia de R$ 3.800 a 18 senadores. Pelo menos dois compraram apartamentos com o dinheiro do auxílio. Nove moram em casas próprias.
Quem tem casa usa o auxílio como complementação salarial, para pagar despesas domésticas. Quem investiu em imóveis será proprietário de um apartamento no final do mandato. Um terceiro grupo mora em hotéis de Brasília.
A maioria dos apartamentos desocupados precisa de uma reforma ou de pequenos reparos para ficar em condições de uso. Fechado ou ocupado, cada apartamento tem um custo mensal de manutenção de R$ 3.500, segundo cálculos do senador Julio Campos (PFL-MT), que já administrou os imóveis.
O senador Casildo Maldaner (PMDB-SC) usou as suas economias e comprou um apartamento no Metropolitan Flat por R$ 45 mil, em agosto do ano passado. Passou a receber o auxílio.
"Comprei para ir repondo as minhas economias com o auxílio-moradia", afirmou o senador. Mas não deu sorte: comprou um flat da Encol, construtora que está em situação pré-falimentar. Corre o risco de perder o apartamento.
Osmar Dias (sem-partido-PR) morou por dez meses num apartamento funcional. Depois, comprou um apartamento na Asa Norte por R$ 100 mil. Deu uma entrada de R$ 30 mil e pegou uma carta de crédito de R$ 70 mil.
Paga R$ 1.800 por mês pela carta de crédito e mais R$ 1.400 pelo empréstimo dos R$ 30 mil. Recebe R$ 2.800 de auxílio moradia, já descontado o Imposto de Renda. O financiamento é de cinco anos. "Do tamanho do mandato", disse Dias, que já cumpriu 3 dos 8 anos.
Epitácio Cafeteira (PPB-MA) mora numa mansão no Lago Sul e recebe auxílio-moradia. Disse que fez essa opção porque o Senado lhe negou um apartamento funcional que já estava reservado.
"Queriam colocar o Sarney no apartamento de porta (localizado ao lado do seu). Achei que era molecagem", disse Cafeteira. Ele é o maior adversário político de Sarney no Maranhão. Cafeteira disse que usa o dinheiro do auxílio para pagar "as despesas normais da casa, como caseiro, IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e outros empregados".
Julio Campos (PFL-MT) também mora no Lago Sul, em casa própria, e recebe o auxílio. Ficou com vencimentos de R$ 11,8 mil. "O auxílio vem no contracheque", afirmou. O senador disse que gasta R$ 8.000 por mês para manter a família em Brasília.
Renan Calheiros (PMDB-AL) tem uma casa no Lago Sul, comprada há vários anos com financiamento da Caixa Econômica Federal. Preferiu morar na casa e receber o auxílio-moradia.
Também moram em casas e recebem auxílio os senadores pefelistas Edison Lobão (MA), Hugo Napoleão (PI), José Agripino Maia (RN) e Romero Jucá (RR). José Ignácio Ferreira (PSDB-ES) mora num apartamento na Asa Norte, e Gilvan Borges (PMDB-AP), num condomínio no Lago Sul.
Sete senadores preferiram morar em hotéis ou flats para evitar as despesas de manter um apartamento funcional, que tem quatro quartos e salas de 60 m2.
Jonas Pinheiro (PFL-MT) mora no Manhattan Flat porque não havia apartamento funcional disponível quando assumiu o mandato. Hoje, diz que não se mudaria mesmo que houvesse algum.
Abdias Nascimento (PDT-RJ) disse que preferiu morar no Hotel Nacional porque sairia "muito caro montar duas casas", uma no Rio de Janeiro e outra em Brasília.

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