São Paulo, sábado, 30 de agosto de 1997
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Redução de verba contribuiu para epidemia

DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O aumento de casos de sarampo no Brasil -sobretudo em São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro- não foi causado por problemas recentes.
A volta da doença é resultado da redução progressiva de investimentos do governo na Fundação Nacional de Saúde (órgão federal responsável pelas campanhas de vacinação) desde 1992.
Em 92, a FNS gastou R$ 50 milhões na maior campanha de vacinação contra sarampo do país.
Segundo a Folha apurou, desde então não é feita manutenção adequada na rede de refrigeração onde as vacinas ficam armazenadas nem há treinamento dos profissionais responsáveis pela aplicação das doses.
Maior queda
A maior queda nas verbas destinadas às campanhas de vacinação ocorreu de 95 para 96. Os recursos federais gastos no controle de doenças transmissíveis (como dengue, sarampo e pólio) foram reduzidos de R$ R$ 270 milhões em 1995 para R$ 144 milhões no ano passado.
A epidemia de sarampo não foi a primeira consequência dessa redução das verbas.
No primeiro semestre deste ano, o país foi atingido por uma epidemia de dengue com recorde de casos registrados. Pelo menos 136,1 mil pessoas contraíram a doença de janeiro a junho de 97, em todo o país. No mesmo período do ano passado, o número de infectados havia sido de 72 mil.
O aumento nos casos de dengue teve como causa o atraso na liberação de recursos federais para a campanha de erradicação do Aedes aegypti (mosquito que transmite a dengue e a febre amarela).
Em março de 96, o presidente Fernando Henrique Cardoso anunciou que o plano de erradicação do mosquito seria lançado em março de 97 e contaria com R$ 4,3 bilhões. O volume de recursos caiu para R$ 360 milhões, e o dinheiro só foi repassado aos Estados no mês passado.
Em fevereiro passado, o ex-presidente da FNS Edmundo Juarez pediu demissão e afirmou que os sucessivos cortes nas verbas da fundação impediam que o combate às doenças endêmicas tivesse sucesso.
"Assim não dá para trabalhar", disse, ao justificar sua demissão. Juarez morreu na mesma semana em que pediu demissão.

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