São Paulo, sábado, 30 de agosto de 1997
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Tenor argentino estréia sob a batuta de Plácido Domingo

José Cura tem primeiro CD lançado pelo selo Erato, da Warner

IRINEU FRANCO PERPETUO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Mais um tenor está se candidatando à coroa de Carreras, Domingo e Pavarotti. O argentino José Cura é a esperança do selo Erato (da Warner) para combater o francês Roberto Alagna, da EMI.
A gravadora está lançando o primeiro CD de Cura em setembro, um recital com árias de Puccini com a Philharmonia Orchestra, regida por Plácido Domingo.
E Domingo é, entre os "três tenores", aquele a que Cura mais se assemelha. Com uma voz escura e encorpada, o argentino tem cantado os papéis pesados de óperas que fizeram a glória de seu colega espanhol, como "Otello", de Verdi.
Nascido em Rosário em 1962, Cura tem como diferencial a boa formação musical: enquanto grande parte dos tenores tem dificuldade até para ler partitura, ele estudou composição e regência.
Já cantou na Opéra Bastille (Paris) e no Covent Garden (Londres), além de teatros italianos, como o Scala de Milão. Ironicamente, jamais fez uma ópera completa no teatro Colón, de Buenos Aires.
Apesar da pouca idade, acaba de cantar "Otello", de Verdi, com a Filarmônica de Berlim regida por Claudio Abbado, em Turim.
Entre seus próximos projetos, encontram-se um CD com canções de compositores eruditos argentinos, como Ginastera e Guastavino, e a ópera "Sansão e Dalila", de Saint-Saens, com a Sinfônica de Londres. Cura falou com exclusividade à Folha por telefone, de Paris, onde vive.
*
Folha - Estamos vivendo uma carência de tenores?
José Cura - É um tema complicado. Existe uma carência do artista completo, do profissional formado. Não estou falando do material vocal. O que há pouco são artistas com experiência técnica.
Folha - Por quê?
Cura - Porque o mundo de hoje está de cabeça para baixo. Há pouca gente interessada em investir dez ou 15 anos de sua vida para preparar uma carreira. Na civilização atual, em que tudo vai muito rápido, poucos têm paciência para esperar pelos resultados.
Folha - Escolher o caminho mais longo compensa?
Cura - Sim, quando se tem a sorte que eu tive de triunfar por esse caminho. Obviamente, é muito frustrante, depois de tantos anos de sacrifício, a pessoa não conseguir sequer viver de seu trabalho.
Folha - Existe estrutura para formar astros da música na América Latina ou o seu caso é isolado?
Cura - Hoje em dia, em praticamente todas as cidades do mundo as estruturas são as mesmas. Grandes cidades, como Buenos Aires e Rio, têm sempre gente talentosa. O que acontece é que, quando se chega em um determinado estágio, é necessário ir ao país em que esse tipo de música se originou, para ter contato direto com a cultura.
Folha - Como foi o trabalho com Plácido Domingo?
Cura - Foi lindo e interessante, pelo fato de que ele, em nenhum momento, tentou impor o que sabia por ter cantado esse repertório.

Disco: José Cura e Philharmonia Orchestra
Lançamento: Erato (Warner)
Quanto: R$ 25, em média

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