São Paulo, domingo, 31 de agosto de 1997
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O Brizola da 3ª onda

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE DOMINGO

Vejamos o resultado do congresso do PT, mas, ainda que a confusão babélica instalada no partido venha a ser equalizada neste fim-de-semana, o fato é que a mais forte representação da esquerda brasileira passa por dias críticos.
Desde a acachapante derrota para Fernando Henrique Cardoso e do erro infantil de atacar o Real, o PT acumula equívocos: posições regressivas na defesa do corporativismo, miopia na votação de reformas, esquematismo ideológico no combate ao "neoliberalismo", incapacidade de fazer política e organizar estratégias de maior prazo.
Uma alternativa de governo petista a FHC parece tão provável quanto uma invasão marciana. Seja o eterno Lula, com sua eterna rejeição, seja o compenetrado Tarso Genro, seja lá quem for, o PT, por si, tem chances irrisórias em 98.
Poderia, porém, desempenhar um papel decisivo numa articulação que pudesse se contrapor ao bloco no poder, cuja deficiência mais óbvia está na incapacidade de operar a área social no curto prazo, relegando as soluções "definitivas" para o dia em que todos falarmos francês e a economia puder crescer de forma "consistente e sustentada".
Mas o PT não gosta de companhia. Acha que aliança dá sarampo. Repete ainda hoje a histórica divisão das esquerdas, que funcionam segundo a lógica da seita doutrinária. O mais próximo acaba, na prática, sendo o inimigo preferencial.
*
Enquanto isso, abre-se o terreno para um remodelamento do populismo.
Ciro Gomes é o nome: apoio decidido ao capitalismo, mas com forte discurso social. Foi um governador de sucesso e ministro da Economia no Real. Pode encantar aqueles que querem preservar a estabilidade, temem a incompetência e o radicalismo do PT, mas desejam no Planalto um homem mais ativo e decidido, com promessas de crescimento, emprego e vida melhor.
Ciro é candidato a uma espécie de Brizola da terceira onda, um Tony Blair tropical, alguém que reencarne as idéias da social-democracia e recoloque em cena aquela dose de demagogia e messianismo tão cara aos brasileiros.

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