São Paulo, domingo, 31 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fragilidade é a atração do clássico

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

É uma situação esdrúxula, como diria Mesquitinha, o genial cômico dos teatros de revista e do cinema brasileiro dos anos 30 aos 50, merecedor de uma revisita dos críticos especializados: o que mais atrai no jogo de hoje é exatamente a fragilidade de Corinthians e São Paulo.
Ambos vêm mal na temporada. Na melhor das hipóteses, viajando na montanha russa que tem sido a trilha de quase todos os nossos times, com exceção do líder invicto, o Inter. O São Paulo, ainda, se justifica com a inexperiência da maioria dos seus jogadores, o que é discutível, embora aceito pela mídia. Mas e o Corinthians?
Bem, o Corinthians, afora os desfalques específicos de hoje, vive uma guerra interna cujo desfecho é imprevisível.
O fato é que seu patrocinador, o banco Excel, e o vice-presidente de futebol, Zezinho Mansur, não se bicam. Eis por que o banco resolveu, a partir da semana passada, abrir o jogo publicamente. A venda de Marcelinho foi obra e graça de Zezinho Mansur, que teria justificado essa decisão, atribuindo ao jogador uma liderança nefasta ao grupo. Assim como Mansur teria telefonado para o lateral André, quando o negócio com o Tenerife já estava sacramentado, prometendo-lhe que, se voltasse, receberia do Corinthians as mesmas vantagens oferecidas pelos espanhóis.
Pelo menos, foi o que me asseguraram o diretor de marketing do banco, Ival Dias, o diretor de esportes, Mário Sérgio, e o assessor de imprensa, Mauro Lopes, em torno de uma mesa de almoço do Caesar Park, quarta-feira passada. Não duvido, nem me surpreendo, embora o dirigente corintiano tenha desmentido isso tudo ao longo da semana.
O fato é que, mesmo revelando sua intenção de seguir em frente com o acordo (para tanto, trama a vinda de mais dois craques exponenciais, além do já contratado Edílson: Flávio Conceição e Leonardo, ou, quem sabe, o argentino Riquelme), se o banco não conseguir convencer o Corinthians de que é fundamental a criação de um comando único, só posso visualizar frustrações no horizonte desse consórcio.
Quanto ao São Paulo, tudo indica, quebrou-se o encanto: em vez de crescer na competição, descaiu e ficou levitando numa zona de incerteza que afetou até o julgamento de Dario Pereyra. A ponto de perder as referências sobre a melhor disposição da equipe. E, pelo jeito, recomeça tudo de novo, com Luís Carlos, Belletti etc.
Assim, os velhos rivais se enfrentam hoje com seus problemas à mostra e uma necessidade única de vencer. Logo, bom jogo se avizinha.
*
Querem mesmo ensandecer o velho Lobo, com a perguntinha capciosa: e Raí, Zagallo?
*
Por falar nisso, e Zetti? O que mais precisa fazer para merecer essa camisa 1?
*
Duvido que este será o fim de Maradona. Daqui a um, dois, três, quatro ou cinco anos, lá estará Maradona, gordo, já beirando os 50, novamente em campo, com os olhos injetados, acenando a bandeira da remissão. E assim será, até que ouça o rufar das asas de um anjo esvoaçando sobre o campo vazio.

Texto Anterior: Acomodados duelam no Pacaembu
Próximo Texto: Em Bragança Paulista (SP)
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.