São Paulo, domingo, 31 de agosto de 1997
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'Fábricas' de pilotos seduzem o Brasil

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Na última semana, 40 garotos e garotas de 16 a 19 anos, a nata do kartismo brasileiro, principal fonte de talentos do país, se degladiou não por um título, mas por uma simples vaga de escola.
Um concorrido vestibular de tomadas de tempo, acerto de equipamento e corridas. Como prêmio, um ano na França, na La Filière, uma das principais escolas de automobilismo do mundo, bancada pelas gigantes francesas Elf (petrolífera) e Renault (veículos).
O programa existe faz tempo e inclui, entre seus formandos, nomes como Alain Prost, Olivier Panis e Patrick Tambay. Há alguns anos, aceita não franceses.
Agora, inclui o Brasil por estratégia de marketing -as duas empresas entraram formalmente no mercado nacional neste ano.
A promoção, no entanto, encontrou campo fértil. Sem um grande campeão à frente desde a morte de Ayrton Senna, em 94, o país assistiu à implosão de todo um esquema informal de formação.
Indicações e apadrinhamentos eram a norma. E até hoje resquícios do velho sistema resistem.
O grande exemplo, a referência, porém, não existe mais. E esquemas profissionais como o da La Filière viram a "chance de uma vida", como descreveu o pai de um piloto, na última quinta-feira, durante a seleção, em São Paulo.
A La Filière, na verdade, é um investimento, como vários que existem na Europa, EUA e Canadá.
Michael Schumacher, por exemplo, foi do Team Junior da Mercedes. Jacques Villeneuve decolou a partir do programa da equipe de Indy Forsythe, bancada pelos cigarros Player's, que já produziu uma segunda cria, Greg Moore.
Claro, ainda existem muitos pilotos que se formam sozinhos. Mas é certo que para patrocinadores, programas desse tipo, são bem menos empíricos do que o velho tapinha nas costas e o surrado "esse garoto vai dar o que falar".
Para completar, além do apoio financeiro, os formados por programas de alto nível são preparados para o extra-pista: trato com mídia e patrocinador, idiomas, preparação física, imagem e todos aquelas coisas que fazem os pilotos de hoje em dia sorrir mesmo depois dos piores fracassos.
E, quem não passou por tal escola, está sendo obrigado a fazer recuperação. Rubens Barrichello, por exemplo, ao ser contratado pela Stewart, foi submetido até a aulas de vestuário e etiqueta.
Artificial ou não, o sistema veio para ficar. E o Brasil, sem campeões, começa a correr atrás.

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