São Paulo, domingo, 31 de agosto de 1997
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O fantasma PC

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Em um país um tiquinho mais sério, a novela PC Farias/Suzana Marcolino não seria relegada a uma mera guerra de laudos periciais.
O mais recente laudo, emitido pela USP, desmente o anterior, de um perito da Unicamp. O da Unicamp apostava (e o verbo é o único adequado no caso) em suicídio da moça, depois de ter matado PC Farias. O da USP confirma o homicídio, mas diz que não há indícios de que Suzana tenha cometido suicídio.
O que, automaticamente, remete à hipótese de que ambos foram assassinados. Se verdadeiro esse laudo, volta-se à suspeita que até as conchas das praias de Maceió alimentavam quando souberam da dupla morte: queima de arquivo.
É justamente essa possibilidade que deveria retirar o caso do âmbito do conflito de versões periciais.
A vítima mais notória, PC Farias, foi personagem fundamental de um dos períodos mais escabrosos da vida republicana, qual seja o governo Fernando Collor. Era o homem que abria ou fechava o "propinoduto" que ligava interesses privados ao governo de seu amigo.
PC foi de uma lealdade mafiosa: não abriu jamais o bico para acusar quem quer que seja, de um lado ou outro do "propinoduto".
Logo, se houve uma queima de arquivo, como é lógico inferir a partir do laudo da USP, a quantidade de suspeitos é grande. Mas a quantidade importa menos do que a qualidade deles.
Todos os que fizeram negócios com PC caem nessa categoria, o que inclui um verdadeiro "quem é quem" do mundo empresarial brasileiro, para não mencionar os que estavam do lado estatal das maracutaias.
A maioria, se não todos, continua levando a vida normalmente, ao que, aliás, tem todo o direito, já que o nosso primoroso sistema legal pode não ser exatamente cego, mas maneta com certeza é: invariavelmente, pega a mão que se deixa comprar, mas não a que comprou.

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