São Paulo, quinta-feira, 4 de setembro de 1997
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Eleição e verba distanciam Covas de Kandir

LUÍS COSTA PINTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador de São Paulo, Mário Covas, decidirá nos próximos dois ou três meses se é candidato à reeleição no próximo ano. Caso não dispute, quer que o seu partido, o PSDB, defina de imediato o nome de quem concorrerá ao cargo de governador do Estado com o ex-prefeito Paulo Maluf (PPB). Enquanto não decide o que vai fazer consigo mesmo, Covas trata de sabotar ainda na decolagem a tentativa de vôo independente de outros tucanos com os quais não tem afinidade e que desejam sentar na sua cadeira no Palácio dos Bandeirantes (sede do governo paulista).
Sua primeira vítima é o ministro do Planejamento, Antonio Kandir. O governador não tem poupado críticas a ele. Diz-se enganado pelo ministro, autor de uma lei de desoneração tributária de produtos destinados à exportação aprovada pelo Congresso no ano passado. Covas quer de volta R$ 800 milhões que o Estado deixou de arrecadar em função da nova lei.
A briga pública entre o governador e o ministro também tem inspiração eleitoral: chegou aos ouvidos de Covas a versão de que a banda do PSDB mais próxima do presidente Fernando Henrique Cardoso gostaria de ter Kandir na disputa contra Maluf, o que facilitaria o trânsito do presidente nos dois palanques. Covas acha que seu partido tem muitos nomes para ocupar a sua vaga de candidato, mas entre eles não cita Kandir.
"Eu sou o centro de decisões deste governo, que é muito bom. Todas as coisas que eu tenho feito nos últimos três anos darão resultados em 1998. Mesmo que não seja candidato, e hoje digo sinceramente que não quero ser, mas não sei como vou reagir ao apelo do partido, quero ser acionista majoritário deste conselho que vai decidir o futuro do que fiz", desabafou o governador durante um jantar com amigos, anteontem.
O ministro do Planejamento não quer polemizar com Covas. Ontem, chegou a convocar uma entrevista em Brasília para desmentir as críticas que o governador paulista lhe tem feito, mas desistiu da idéia. Preferiu divulgar um punhado de leis que aliviam as perdas dos Estados com lei de desoneração de produtos destinados à exportação (veja texto ao lado).
"Sou candidato a deputado federal. Assim como o Mário Covas tem dito que não sabe em que palanque para governador do Estado o presidente vai subir para apoiar, mas que ele subirá no palanque do presidente Fernando Henrique na disputa pele reeleição, eu tenho palanque a governador de São Paulo: o do Mário Covas", disse ontem.
Quando diz que não deseja disputar a reeleição, o governador Mário Covas não convence nem a própria mulher. "Eu tenho certeza de que ele será candidato. Gostaria que não fosse, mas já estou preparada", tem dito a primeira-dama do Estado, Lila Covas, a quem lhe pergunta pelo futuro do marido. "É injusto que o Mário não possa ser candidato. Tudo o que ele fez de bom para São Paulo dará frutos no próximo ano. Eu entendo a ansiedade do partido para que ele anuncie logo se é ou não candidato", explica ela, considerando a candidatura de Covas à reeleição um fato consumado.
O governador de São Paulo acha que está entrando na melhor fase de sua administração. Conta nos dedos os dias que faltam para iniciar a privatização das empresas de energia elétrica e gás do Estado (CPFL, Eletropaulo e Comgás). Este início está marcado para o dia 5 de novembro, quando será leiloado o controle acionário da CPFL. Terça-feira à noite, durante uma reunião preparatória dessa privatização em seu gabinete com o secretário David Zylberstajn (Energia) e com o presidente da companhia energética de São Paulo, Andrea Matarazzo, Covas ressaltou com brincadeiras seu bom humor.
"Talvez seja melhor fazer as privatizações no ano que vem, vai ficar muito em cima do fim do ano", propôs Zylberstajn. "Ôpa! Vocês dois respeitem ao menos o mito que há sobre mim: eu sou o estatizante, e vocês, os privatizantes. É isso o que dizem. Mas que idéia é essa de deixar para depois? Só porque as empresas foram saneadas e estão dando lucro? Nada disso. Vamos vender dentro do cronograma", disse para os dois. Depois, voltou-se irônico para o secretário da Energia, que é genro do presidente Fernando Henrique Cardoso, e disparou: "Quanto a você, vou falar para o seu sogro o que estás propondo". Riram.
Há tanta tranquilidade na agenda paulistana de Covas que ele tem se permitido dar opiniões na disputa para presidente da República. Foi o que fez na semana passada, quando soube da disposição do ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes de deixar o PSDB e disputar a Presidência da República pelo PSB. Procurou o presidente Fernando Henrique Cardoso em Brasília e teve com ele uma conversa sincera que poucos têm coragem de ter.
"Se eu fosse você, não deixaria o Ciro sair do partido. Isso será ruim porque o Ciro tem um discurso ousado e porque o PSDB e o governo precisam de homens como ele. Precisamos das visões do Ciro, precisamos de suas discordâncias. O PSDB precisa de oposição dentro dele, afinal governo já temos demais. Gente para dizer o que você quer ouvir, tem muita. Gente como o Ciro, o Almino (Affonso, deputado federal pelo PSDB-SP) e o Tuga (Angerami, deputado federal pelo PSDB-SP), tem pouco", disse Covas ao presidente. "Também acho, mas é um problema para o Tasso resolver", respondeu o presidente, segundo relato do governador feito a um amigo anteontem à noite.
Só um assunto tem tirado o governador paulista do sério: a sensação de insegurança sentida pela sociedade. Covas desabafou com um assessor do Palácio dos Bandeirantes e com sua esposa, há dois dias, dizendo-se certo de que as corporações das Polícias Militar e Civil o sabotam. Não crê na existência de sabotagem política, como rastreamento de telefonemas e de informações que possam comprometer a ele e ao seu governo, mas sim em desobediência às políticas públicas de segurança.
Ele reclama contra o fato de ter comprado 4.500 automóveis para equipar diversos batalhões da PM e quase todos os distritos policiais, e de não olhar para as ruas e ver esses carros rodando.
Diz até que as corporações de polícias não o sabotam porque são partidárias do PPB ou do PT, seus adversários à direita e à esquerda, mas sim porque o conjunto de policiais civis e militares tornou-se ingovernável.
"Se por acaso eu vencer uma outra eleição, caso dispute, isso muda", jurou diante da primeira-dama Lila Covas, com ar definitivo de candidato.

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