São Paulo, quinta-feira, 4 de setembro de 1997
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Cresce descontentamento com atitude distante da família real

DO "THE INDEPENDENT"

O sentimento de comoção nacional causado pela morte da princesa Diana começa a ceder espaço para uma certa sensação de descontentamento com o aparente fracasso da família real em expressar publicamente sua tristeza.
O descontentamento -e, em alguns casos, a revolta- revelam um vazio crescente entre o ânimo do público em geral, que tem prestado tributo a Diana em todo o país, e a atitude da família real, que continua distante dos olhos do público no castelo de Balmoral, na Escócia.
Alguns especialistas em monarquia temem que o desejo do público em eleger um bode expiatório para a tragédia pode enfraquecer a instituição de maneira irrevogável.
Para os especialistas, o descontentamento com a reação da família, combinado com a maneira como a trataram mal nos últimos anos do casamento com Charles, pode se tornar um coquetel explosivo.
O desconforto era particularmente forte entre pessoas entrevistadas enquanto enfrentavam filas de até 11 horas para assinar um dos livros de condolências no palácio de Saint James.
"Acho que a família real não está a par das emoções do povo britânico. Eles a trataram mal e deveriam estar por aqui agora", afirmou a professora Sandra Seed ao jornal.
"A rainha deveria ter ido à televisão para expressar sua tristeza. Todo mundo teria adorado ouvi-la dizer isso", disse Ellen Byrne, funcionária de uma fundação.
"Por que ela tem de se esconder atrás dos portões de Balmoral?", perguntou uma terceira pessoa, que não quis se identificar.
"Se eu morresse, eu esperaria que minha sogra dissesse alguma coisa, mesmo se não gostasse muito de mim."
"Como pode toda o Reino Unido, todo o mundo, saber uma coisa que a família real não sabe?", perguntou o antropólogo Joey Daley-Land. "Eu acho que eles nunca entenderam o que Diana representava para tantas pessoas."
Penny Junior, biógrafo da família real, endossou as críticas. "É surpreendente que a rainha não tenha expressado sua tristeza. Isso demonstra uma inabilidade em compreender o que diabos deveria ser feito", disse.
A seriedade potencial da situação ficou demonstrada pela defesa da atitude da família real feita ontem por um porta-voz de Downing Street, residência oficial do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, do Partido Trabalhista.
O porta-voz disse que não se deveria esperar que a família real "se deixasse envolver e atuasse como extras num evento de mídia".
Segundo o porta-voz, Blair teria conversado ontem durante 15 minutos com o príncipe Charles, a quem teria expresso total apoio.
"Eles estão fazendo todos os arranjos práticos para o funeral, que são, obviamente, muito complexos, e, além disso, estão amparando os dois meninos. Eles compartilham nossa tristeza e devemos respeitar isso", afirmou o próprio primeiro-ministro Tony Blair, eleito em maio último.
Já um porta-voz do Palácio de Buckingham afirmou que o sofrimento pela morte de uma pessoa é um "processo privado" e que as pessoas deveriam permitir que cada um faça isso de sua própria maneira.

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