São Paulo, quinta-feira, 4 de setembro de 1997
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TV, GOVERNO E FAMÍLIA

O limite do que deve ou pode ser exibido por meios de comunicação como a televisão constitui um dos grandes problemas da formação de crianças e jovens. E, numa sociedade que passou em poucas décadas por uma grande liberalização de costumes, se torna ainda mais difícil estabelecer critérios rígidos sobre o que é pernicioso à boa educação.
Em pesquisa encomendada pelo Ministério da Justiça, 75% das pessoas entrevistadas pelo Ibope afirmam ser favoráveis à criação de um órgão que controle a programação da TV. Estranhamente, 57% delas dizem estar pouco ou nada preocupadas com os efeitos da TV sobre a formação de seus filhos.
Os números sugerem uma atitude de descompromisso dos pais. Eles parecem desejar transferir ao poder público uma atribuição que em primeiro lugar deveria ser deles.
Não se está desconsiderando o fato óbvio de que a família hoje não tem mais como se responsabilizar exclusivamente pela criação de seus filhos. Mas isso não deve servir de pretexto para que os pais, mesmo que tenham uma vida atribulada e passem a maior parte do dia fora de casa, empurrem o problema para as escolas ou para o governo. Essa é, aliás, uma reclamação recorrente entre pedagogos e diretores, que se dizem encarregados pelas famílias de administrar a educação e a disciplina que os pais não querem ou não conseguem proporcionar.
Pretender que o governo, por sua vez, fixe por meio de um órgão específico o que pode ou não ser exibido pela TV significaria conceder ao Estado, parcialmente ou não, o perigoso direito de determinar como se deve dar uma boa formação.
O mais sensato talvez seja criar um conselho sem poderes normativos, composto por pais, educadores e órgãos de comunicação, para que se estabeleça um diálogo esclarecedor. A partir daí, poderiam ser corrigidos eventuais abusos na programação. Mas é imprescindível que os pais se engajem num problema que é deles.

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