São Paulo, sexta-feira, 5 de setembro de 1997
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Rabinos decidem "reabilitar" companheira de Carlos Lamarca

Família de Iara Iavelberg quer a exumação do corpo

OTÁVIO DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo, Vera Bobrow, e diversos rabinos decidiram ontem "reabilitar" a militante de esquerda de origem judaica Iara Iavelberg (1944-71), que foi companheira de Carlos Lamarca e morreu quando fazia oposição ao regime militar (1964-1985).
Segundo versão divulgada na época, Iara teria se suicidado, o que é considerado crime no judaísmo. Por isso, ela foi enterrada na ala dos suicidas do cemitério israelita do Butantã, em São Paulo.
Em reportagem publicada pela Folha no último domingo, seus irmãos manifestaram o desejo de exumar os restos mortais e realizar uma perícia com o objetivo de verificar se Iara se suicidou mesmo.
O motivo foi uma informação surgida em 96 de que ela teria morrido metralhada durante o cerco ao apartamento onde vivia, em Salvador. Como o laudo de sua morte desapareceu, só a exumação poderia restaurar a verdade.
Mas a exumação é proibida pela religião judaica -"os corpos dos mortos devem ser deixados em paz"- e, por isso, a Sociedade Cemitério Israelita de São Paulo, que administra os cemitérios judeus da cidade, vetou sua realização.
Na reunião de ontem, chegou-se a uma solução intermediária. Iara deixará de ser considerada suicida e será celebrada uma cerimônia em seu túmulo, na qual, segundo o rabino Elyahu Baruch Valt, "será pedido perdão à alma de Iara pelo erro cometido". O local será "dignificado" com a leitura de salmos.
O rabino Valt, 58, chegou a essa solução após consultar uma importante autoridade religiosa de Israel, o rabino Elyashiv. "Ele disse que a alma do falecido pede que a deixem de paz", afirmou.
Para o presidente do rabinato da Congregação Israelita paulista, Henry Sobel, 52, que apóia a decisão da família, a proposta é um "bandeide", que aparenta ser uma solução, "mas não é". "Só a exumação servirá de consolo aos pais e aos irmãos", disse.
Sobel considera que a Sociedade Cemitério Israelita foi omissa ao enterrar Iara na ala dos suicidas sem ter certeza das circunstâncias de sua morte. Por isso, é favorável à perícia. O irmão mais novo de Iara, Raul, também não concorda: "É importante a reabilitação do ponto de vista religioso. Mas mais importante é colocar a história do Brasil em pratos limpos".

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