São Paulo, sexta-feira, 5 de setembro de 1997
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Mãe é presa por furtar remédio de R$ 5,8

ANDRÉ MUGGIATI
DA REPORTAGEM LOCAL

A desempregada Jucélia de Oliveira Santos, 24, foi presa em flagrante na tarde de anteontem após furtar o remédio Wyntomilon, que custa R$ 5,80, na vila Amália (zona Norte de São Paulo).
Ela foi solta às 17h30 de ontem, após receber o relaxamento da prisão em flagrante.
O medicamento, indicado para infecções urinárias, era destinado à sua filha Suellen, 8.
Antes de tentar furtar o remédio, Jucélia andou por cerca de oito quilômetros, tentando conseguir ajuda para comprá-lo.
No caminho, tentou conseguir o medicamento em duas unidades do PAS e em uma igreja.
Tudo começou na terça-feira, quando Jucélia levou a filha à Santa Casa. Segundo Jucélia, a menina tinha dores no abdome e dificuldade para urinar.
Jucélia afirma ter ficado o dia todo no hospital. "Saí de lá eram mais de 22h. O médico disse que ia fazer mais exames e receitou esse remédio para ir resolvendo", diz.
Ao voltar para casa de ônibus, Jucélia já se preocupava em como conseguir o medicamento, pois não tinha dinheiro. Resolveu pedir ajuda. Começou pela mãe, Sônia Maria Ventura, 49.
"Ela me pediu R$ 10,00, mas eu disse que não tinha, porque eu não tenho mesmo", disse Sônia.
Com os vizinhos também não teve sucesso. "Se eles tivessem, me dariam, porque sempre ajudam. Mas também não tinham", disse.
Na companhia de uma amiga e com a receita médica na mão, passou a peregrinar pela zona norte da cidade.
Foi às unidades Vista Alegre e Ladeira Alta do PAS (Plano de Atendimento à Saúde, da prefeitura). Novo fracasso.
Tentou ajuda também em uma igreja (católica). Não conseguiu o dinheiro para o remédio.
Jucélia diz que continuou caminhando com a amiga, pedindo ajuda às pessoas que passavam, mas não ganhou nenhum centavo.
Ela diz que, por volta das 17h30 de anteontem, resolveu tentar pedir o remédio em uma farmácia da rede de drogarias São Paulo, na avenida Parada Pinto.
Segundo ela, o balconista da farmácia buscou o remédio, mostrou para ela, mas disse que não poderia doá-lo.
"Ele saiu, deixou o remédio em cima do balcão e foi atender outra pessoa. Eu vi que não tinha ninguém olhando, peguei a caixa e saí andando da farmácia", diz.
Após sair, Jucélia olhou para trás e viu que três funcionários da farmácia corriam em sua direção. "Joguei o remédio no lixo, mas alguém viu e me delatou", disse.
Jucélia conta que, ao ser flagrada, se entregou para policiais militares que faziam a ronda no local.
Segundo ela, os policiais tentaram fazer uma negociação entre Jucélia e o gerente da farmácia. "Eles até queriam pagar o remédio para ele, que não aceitou."
Foram todos para o Distrito Policial da Vila Amália. O delegado Persival Pereira tentou nova negociação, mas o gerente se recusou a retirar a queixa.
Jucélia foi algemada e presa. Ficou em um corredor, ao lado da cela onde estavam os outros presos, todos homens. Ficou detida até as 17h30 de ontem, quando a prisão em flagrante foi relaxada pelo juiz-corregedor Francisco Galvão Bruno.

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