São Paulo, sexta-feira, 5 de setembro de 1997
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Evangélicos são contra três artigos sobre poluição sonora

BETINA BERNARDES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Segundo deputados, tópicos foram elaborados para coibir cultos

Lobbies de evangélicos, industriais e ruralistas contra o projeto de lei sobre sanções penais para atividades lesivas ao meio ambiente estão emperrando sua tramitação e adiando a votação.
A Comissão de Meio Ambiente da Câmara realizou ontem audiência pública para discussão da proposta. Na sessão, falou-se em perseguição religiosa, sexo entre macacos e coibição de exportações.
Elaborado pelo Executivo e aprovado pelos deputados, o projeto foi para o Senado com 27 artigos e voltou à Câmara com 90.
Evangélicos ameaçam fazer campanhas contra quem votar a favor do projeto, caso ele seja aprovado como está.
"Os deputados evangélicos não poderão mais votar com o FHC. Serão 30 milhões de evangélicos marchando contra o governo. Os deputados que votarem a favor serão rejeitados e terão seus nomes divulgados em rádios e TVs", disse o bispo Carlos Rodrigues, da Igreja Universal Reino de Deus.
Os evangélicos são contra três artigos sobre poluição sonora. Segundo eles, esses artigos foram elaborados para coibir os cultos.
Por esses artigos, produzir sons, ruídos ou vibrações em desacordo com as prescrições legais ou regulamentares pode dar pena de três meses a um ano de prisão, com agravante se a infração tiver sido em domingos ou feriados.
Os cultos evangélicos são realizados, inclusive em domingos e feriados, com música, hinos, orações em voz alta e palmas.
No começo do mês passado, eles procuraram o ministro Iris Rezende (Justiça) para que ele pedisse ao presidente o veto dos artigos. Iris, que é evangélico, se comprometeu a ajudá-los.
O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) apóia os evangélicos: "Quando eles se dizem perseguidos, podemos supor que são paranóicos, mas, historicamente, são mesmo perseguidos pela imprensa e pela PF".
Para o deputado, é preciso encontrar uma solução para que, no momento dos cultos, quando os religiosos "se reportam ao céu, os vizinhos não se sintam levados ao inferno" por causa do barulho.
"Os evangélicos são nossos parceiros na luta pela punição a crimes contra o meio ambiente e merecem tratamento diferenciado."
Para Gabeira, o projeto é muito bom, mas há muita desinformação. "O Thomaz Nonô (PSDB-AL) me perguntou, por exemplo, se seria impedir a procriação da natureza se ele interrompesse a relação sexual entre dois macacos", contou Gabeira.
A Confederação Nacional da Indústria listou 68 dispositivos considerados prejudiciais à economia. Um deles é o artigo 54, que prevê multa ou detenção de um a cinco anos para quem exportar espécie vegetal sem licença.
"É muito vago, margarina e óleo de soja podem ser considerados espécie vegetal", disse Shelley Carneiro, representante da CNI.
Até o momento, já foram feitas 40 mudanças no texto pelo relator do projeto, deputado Luciano Pizzatto (PFL-PR).

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