São Paulo, sexta-feira, 5 de setembro de 1997
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Censura permeia festivais

LEON CAKOFF
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

"Gosto de Cereja", de Abbas Kiarostami, figurava no catálogo do Festival de Veneza do ano passado, mas a censura iraniana impediu o filme de ser apresentado.
O problema persistiu até maio passado, quando o filme venceu o Festival de Cannes sem que saísse uma linha sobre ele no catálogo do evento.
A censura se repete agora em sentido inverso. Cannes anunciou em vão a comédia "Keep Cool", de Zhang Yimou, sobre os tempos modernos na China.
Ele chega à competição de Veneza três meses depois, em versão censurada. Pode ganhar prêmios, mas a burocracia chinesa vai avisando que continua proibido para exportação.
Já Ingmar Bergman sofreu censura velada em Cannes, apesar de o festival lhe ter atribuído o prêmio de carreira.
Diante da negativa do cineasta sueco em comparecer à homenagem, o festival cancelou a exibição do raro documentário "A Voz de Bergman", longa entrevista que o cineasta concedeu a Gunnar Bergdahl. O filme acaba sendo festejado em Veneza.
Nessa temporada de ótimos documentários, Veneza destacou também o sofrido e ainda chocante "O Ano pós-Dayton", do austríaco Nikolaus Geyrhalter, sobre o primeiro ano de paz na Bósnia.
Nos territórios retalhados por conflitos étnicos, sobreviventes mutilados mal reagem. A guerra revela novas tragédias e testemunhos.
O festival comemora o "renascimento" do cinema britânico, quando seria mais correto aplicar o termo ao cinema brasileiro.
E apesar de o cinema italiano reagir com uma grande e variada seleção, a censura é uma ameaça que paira também sobre os seus distintos autores.
O episódio "A Saída", de Mario Martone, em "Os Vesuvianos", pode ser proibido por fazer apologia do candidato à reeleição para a prefeitura de Nápoles, Toni Servillo. "Porz–s", de Renzo Martinelli, provoca a ira dos comunistas, que se sentem difamados por essa abordagem sobre o massacre de resistentes católicos por comunistas, em 1944. E "Tano da Morire", de Roberta Torre, corre o risco de não rodar por fazer brincadeiras dúbias sobre as máfias locais.

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