São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
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Para historiador, família real está em encruzilhada

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DE NOVA YORK

A morte trágica da princesa Diana colocou a família real britânica numa encruzilhada, segundo o historiador David Cannadine, professor da Universidade de Columbia, em Nova York, e estudioso da monarquia britânica.
"A grande questão no momento é como a família real reagirá", afirmou o historiador à Folha. Leia os principais trechos da entrevista.
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Folha - A morte da princesa Diana trouxe de volta a discussão sobre o futuro da monarquia britânica. Na sua opinião, quais serão os principais efeitos do ocorrido?
David Cannadine - O primeiro ponto a destacar é o efeito nas duas crianças, uma das quais deverá ser rei. Os príncipes William e Harry ficarão marcados para o resto da vida pelos episódios graves que afetaram sua infância: os escândalos, o divórcio e agora a morte da mãe.
O segundo ponto diz respeito à resposta imediata que a monarquia dará ao que está acontecendo. O estilo Diana será copiado pela monarquia a partir de agora, numa tentativa de ganhar a simpatia popular, ou ocorrerá uma volta ao passado, ao estilo mais tradicional da realeza e, num certo sentido, mais distante do homem comum?
Folha - O senhor falou sobre o estilo implantado pela princesa Diana. Foi um estilo bem-sucedido? Deve ser copiado pelo príncipe William, por exemplo?
Cannadine - O estilo da princesa era de alto risco, ela adotava uma estratégia perigosa. Tinha uma relação próxima com o público. Ela amava publicidade e sabia manipular a imprensa como ninguém. A partir daí, criou uma imagem muito positiva, comprovada pela reação mundial à sua morte.
Mas, ao mesmo tempo, também sofria nas mãos dos jornalistas e, em consequência, da própria opinião pública. Um parte dela adorava a publicidade, outra odiava tudo isso, queria um pouco de paz.
Quando a pessoa se aproxima demais da imprensa, também pode virar joguete nas mãos dos jornalistas. E não adianta reclamar.
Folha - Na imprensa norte-americana, a princesa Diana tem sido frequentemente comparada à ex-primeira-dama Jacqueline Kennedy Onassis...
Cannadine - É uma comparação pertinente, mas acho que a princesa Diana tornou-se um mito ainda mais global. Quanto à luta de Jackie por privacidade, também foi diferente. A geração dos anos 70, quando Jackie era moda, e a dos anos 90 são outras.
A mídia também mudou. Nos anos 70, era mais discreta. Nos anos 90, ficou mais violenta, mais forte no corpo-a-corpo. Perto do que acontece hoje com algumas celebridades, Jackie não tinha do que reclamar.
Folha - Com todos os desgaste que a imagem do príncipe sofreu, cresce a corrente dos que acreditam que o príncipe William irá suceder a sua avó. O senhor acha que Charles nunca será rei?
Cannadine - Será, sim. Ele quer ser rei, preparou-se para tal e não creio que irá abrir mão do trono. Ele viaja o mundo, sempre foi ligado às causas ambientalistas e faz um trabalho parecido com o que fazia a princesa Diana.
Só que ele não é um homem de mídia, não é uma estrela. Daqui para a frente, ele terá de se mostrar bom pai, mas estará sempre sujeito ao custo Diana, ao custo de ter sido casado e depois se separado de uma pessoa que foi endeusada.
Folha - Quanto a Camilla Parker-Bowles, ela será aceita?
Cannadine - A população estava começando a aceitá-la, ela estava começando a aparecer... Mas agora será dificílimo. Diana virou uma santa, e o casamento de Camilla com o príncipe ficou praticamente impossível.

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