São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 1997
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DE VOLTA ÀS MIÇANGAS

DE VOLTA ÀS MIÇANGAS

A visão folclorizada da colonização da América Latina é a de que os nativos se deixaram seduzir pelas miçangas trazidas pelos colonizadores.
Claro que se trata de uma visão apenas anedótica. Na verdade, a submissão da população autóctone se fez a sangue e fogo. Recentemente, 500 anos depois, o sangue e o fogo vêm caindo de moda; as miçangas, não.
Basta prestar atenção ao episódio envolvendo a designação da Argentina como "major non-Nato ally" pelos EUA. Em inglês, o idioma da neocolonização, o rótulo soa realmente portentoso: "grande aliado não-membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte)".
O governo argentino tratou o evento como se tivesse recebido o ISO 9000 em política externa. Tanto que o presidente Carlos Menem apressou-se em usar o rótulo como um aval para reivindicar a vaga supostamente reservada à América Latina no Conselho de Segurança das Nações Unidas. O governo brasileiro reagiu com mal disfarçado ciúme, tanto em relação à designação de "major ally" como em relação à postulação argentina à vaga na ONU.
Armou-se uma pequena tempestade verbal, em que se envolveu também o presidente chileno, Eduardo Frei, para quem a escolha da Argentina criaria incertezas na região.
Agora, uma autoridade norte-americana, o subsecretário de Estado para Assuntos Interamericanos, Jeffrey Davidow, minimiza ao extremo a importância da designação.
"Os efeitos práticos são mínimos", diz Davidow. Mais: "A designação da Argentina, se vier a ocorrer ou ser anunciada, não significa nenhum compromisso estratégico de nossa parte". E prontificou-se a estendê-la também a Brasil e Chile, "se tiverem interesse". Isto é, reduziu o evento tão festejado na Argentina e tão temido nos vizinhos ao que realmente é: apenas uma lantejoula.

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