São Paulo, segunda-feira, 15 de setembro de 1997 |
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Açude seco serve de motel
MARILENE FELINTO
"A cidade ia ficar mais movimentada, com gente indo e gente chegando. O meu sonho é assim, de ficar por aqui um dia só a passeio", ele disse à Folha, olhando pensativo para a água pouca e parada do açude Malaquias, onde se pesca traíra e corró. Seu nome todo é Francisco Hélio Nogueira da Silva Roma Feitosa, nome grande demais para a cidade pequena. "Aqui mesmo é ruim porque o povo fala da vida dos outros. Se você está conversando com um cara e leva ele para dentro da sua casa, já maldizem." Hélio calcula que 20% dos homens de Parambu são putos (gays), "casados, solteiros, muitos, aqui ninguém é santo. E tem também muito macho-e-fêmea (lésbicas), que todo mundo sabe". Hélio, que está na 5ª série, sabe que camisinha é para usar "caso entre doenças". Ele contou que a cidade não tem motel, mas que todo mundo vai transar debaixo da ponte, no leito seco do açude Acarape, "onde até tem uma placa escrita Motel Acarape". Hélio, a quem a cidade chama pejorativamente de "Salgadinho", apelido de quando ele, menino, vendia salgadinhos pelas ruas, narra um de seus conflitos. "Agora sou católico, mas antes frequentava a presbiteriana, porque diziam que quem aceita Cristo é salvo. Mas eles não deixavam a gente ir em festas, e eu saí". (MF) Texto Anterior: da enviada especial Próximo Texto: Professora tem 14 anos Índice |
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