São Paulo, segunda-feira, 15 de setembro de 1997 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Ter ídolo faz bem
AUGUSTO PINHEIRO
Mas é tudo mesmo: ela chegou a comprar um CD japonês do ator e dublê de cantor Eddie Murphy só porque em uma das faixas o guitarrista do Bon Jovi, Richie Sambora, falava "Yeah, yeah". Jorge Amaral, 23, vive perseguindo artistas. Costuma fazer plantão à tarde no aeroporto na expectativa de ver alguém famoso e tirar foto. Sua coleção de fotos ao lado de famosos é enorme: desde Morten Harket (ex-vocalista do A-ha) a Eliana (apresentadora infantil). Mas seu verdadeiro ídolo é o cantor mexicano Enrique Iglesias, por quem é capaz de tudo. Fábio Rogério Galli, 20, costumava pedir dinheiro à mãe para comprar livros, mas torrava tudo em CDs da Madonna. Assim que a cantora muda de visual, ele copia. "Quando ela lançou o clipe de 'Rain', imitei o cabelo: pintei de preto e cortei bem curtinho", diz. Agora, mantém o look da fase garota-propaganda da Versace (leia outras histórias abaixo). Cultuar ícones culturais, esportivos ou pessoais, enfim, ter um ídolo é algo importante e saudável, garante o psiquiatra Paulo José Moraes, 48. "Caso contrário, a afetividade fica embotada." Ele diz que a idolatria é mais forte e visível durante a adolescência: "O jovem está buscando uma identidade, quer se diferenciar do modelo anterior, dos pais". E, em geral, o adolescente procura modelos que tenham certas qualidades, como liderança, beleza física, talento e coragem. "Ele quer a perfeição, e não algo falho." Ivonise Catafesta, professora de psicologia da USP, afirma que as paixões platônicas pelo roqueiro ou ator hollywoodiano são naturais: "O adolescente ainda tem receio do contato, da realidade. Isso ajuda no desenvolvimento". Mas tem um limite: "Se o comportamento perdurar depois da idade adulta e começar a atrapalhar a vida, a sexualidade, já não é mais considerado bom", diz. Aliás, quando a idolatria se transforma em obsessão é sinal de que algo está errado: "Faz parte da estrutura de uma personalidade insegura, o fã vai além para se completar, tem um buraco dentro dele, busca algo que falta em si próprio. Pode ser considerado patológico", diz Paulo. Ele lembra que a adoração exacerbada já terminou em tragédia, como no caso de John Lennon e, mais recentemente, da cantora norte-americana de origem mexicana Selena, que até virou filme. Ambos foram assasinados por fãs obcecados. "É um ritual antropofágico, matar para devorar, para se tornar o outro", diz Paulo. Texto Anterior: Eles falam da rotina e dos seus desejos Próximo Texto: Nany rastejou em cemitério Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |