São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 1997
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Record fica com 70% nos sorteios pela TV

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

A Rede Record fica com 70% da receita líquida apurada em todos os sorteios de prêmios em nome de entidades filantrópicas que ela transmite.
A informação consta de um documento inédito obtido pela Folha: o contrato assinado em fevereiro último entre a Record e a empresa Abba Produções e Participações, de São Paulo, que atua como uma intermediária entre a emissora e as instituições filantrópicas, além de administrar os sorteios.
É o primeiro documento oficial de uma emissora sobre sua participação no esquema milionário de sorteios pela TV criado a propósito de arrecadar fundos para instituições filantrópicas.
A reportagem teve acesso ao contrato por causa de uma ação judicial envolvendo os atuais e os ex-proprietários da Abba, na 18ª Vara Cível de São Paulo. O contrato está anexado aos autos.
A divisão da receita nos sorteios na Globo, SBT, Manchete e CNT ainda é uma caixa preta. Sabe-se só que as filantrópicas ficam com 5% da receita, depois de deduzida a parcela de 15% da Embratel.
No dia 9 de dezembro do ano passado, o Ministério da Justiça baixou a portaria 729, autorizando as entidades filantrópicas a realizarem sorteios de prêmio pela TV -com apostas pelos telefones 0900- e a contratarem empresas especialistas nesse serviço telefônico para administrar os sorteios.
Na ocasião, a Abba Produções e Participações -operadora do serviço 0900 no Estado de São Paulo- vivia grave crise financeira, com dívidas de R$ 250 mil.
Os proprietários da empresa, Anderson e Jair Carvalho, resolveram oferecê-la à Record e mandaram um fax com a proposta de venda ao vice-presidente da emissora, bispo Honorilton Gonçalves, membro da cúpula da Igreja Universal do Reino de Deus.
No mesmo dia em que a proposta foi feita (22 de dezembro), o diretor financeiro da Record, Rodolpho Lopes, ligou de volta confirmando o interesse na compra.
No dia do Natal, segundo relata Izaias Pereira Lima, advogado dos ex-proprietários da Abba, eles foram procurados por Waldemar Faria Júnior -genro do diretor financeiro da Record- e por seu irmão Fábio Faria, que fecharam o negócio. Dois dias depois, os irmãos Faria assinaram o contrato particular de compra e venda da Abba, no valor de R$ 2 milhões, para pagamento em 12 parcelas. A Record não é citada no contrato.
O advogado diz que os compradores não pagaram as parcelas previstas e entraram com ação contra os antigos sócios pedindo a revisão do preço, alegando que a empresa possuía mais dívidas e menos bens do que o informado.
Os ex-donos entraram com outra ação, em sentido contrário, reivindicando o pagamento acertado ou a devolução da empresa.
Entre os documentos anexados ao processo, estão o contrato particular de compra e venda e o contrato assinado entre a Record e os novos proprietários da Abba, em 17 de fevereiro deste ano.
Waldemar Júnior é também membro da Universal. As páginas do contrato de compra da Abba trazem a rubrica "Maq 3:10", numa referência ao capítulo do livro do profeta Malaquias sobre o pagamento do dízimo pelos fiéis, pilar do crescimento da Universal.

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