São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 1997
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Quarteto Melos tem ponto alto em Schubert

ARTHUR NESTROVSKI
ESPECIAL PARA A FOLHA

É um simples acorde de dó maior, com a primeira corda do violoncelo ressoando, multiplicada, no resto do quinteto. Mas há uma grande distância entre simplicidade e trivialidade, quando o acorde fica nas mãos de um quarteto como o Melos e a distância é maior ainda quando ao quarteto vem se juntar um violoncelista como Martin Lovett.
Assim como Pablo Casals, numa gravação antológica, comandava o Quinteto de Schubert lá do fundo da parte do segundo violoncelo, também Lovett (do extinto Quarteto Amadeus) regeu o Quinteto de dentro da música. Ponto alto do concerto de segunda-feira, esse foi um Schubert vivido, mais do que sofrido, o compositor da experiência, mais do que da paixão.
O programa de hoje à noite, como o de segunda-feira, só peca pelo hábito, igualmente passado, de compor um programa enorme. O Quinteto de Schubert sozinho, a rigor, já seria o suficiente. O Haydn (como o Mozart da segunda) é um prefácio maravilhoso; o Dvorak, nem tanto e, no contexto, dispensável. Mas seria má fé reclamar de música demais.
O poeta Goethe dizia que umquarteto de cordas era como uma conversa entre homens instruídos: a conversa ideal, ou do Ideal. Nem sempre isso é o caso, mesmo com excelentes quartetos.
Mas o Melos, com Martin Lovett, parecia dar forma plástica ao comentário. Tocaram para si mesmos, que são seus melhores ouvintes, e quem estava por lá se beneficiou da conversa. As pequenas variações de andamento e dinâmica, toda a circulação conjunta de idéias musicais foram um prazer humano de ouvir e pensar.
Ouvir e pensar: talvez não haja coisa mais alta, exceto tocar Mozart e Schubert como o Melos o fez. Que agora toque quem puder: faltando dedos, com a memória.

Concerto: Quarteto Melos, com Martin Lovett (violoncelo)
Quando: hoje, às 21h
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 258-3616)
Quanto: de R$ 25 a R$ 50; estudantes, R$ 10 (meia hora antes de cada concerto)

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