São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 1997
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Arenas sem lutadores

JANIO DE FREITAS

Era assim na ditadura militar: a Arena considerava-se "o maior partido do Ocidente", face política do "milagre brasileiro", mas qualquer eventualidade fora do estritamente convencionado aturdia o partido inteiro, e os líderes acorriam ao Planalto para saber o que a reunião do comando partidário devia "decidir".
Em certa altura daquela época, a ditadura e oposição viram que não adiantara abater os líderes da resistência democrática na Câmara: um jovem deputado da bancada paulista revelava-se dotado de incomum capacidade de liderança, talento político e oratória poderosa, qualidades penetradas por uma coragem reta e clara. Sob essa liderança, a oposição política inflamou-se outra vez e reacendeu ânimos de contestação à ditadura pelo país afora.
A ditadura, sob os aplausos dos arenistas, teve que silenciar o deputado Mário Covas cassando-lhe o mandato.
A formalização da recusa de Covas à sua possível reeleição obriga o jornalismo político, embora quase todo muito contrafeito, a mostrar que o PSDB, a qualquer fato não convencionado, entra a bater cabeça com cabeça, e só consegue concluir que suas lideranças acorram ao Planalto para saber o que o comando partidário deve "decidir".
Ao devolver sua carteira de peessedebista nesta semana, outro cassado pela ditadura, o deputado Almino Afonso, referiu-se ao PSDB como "o partido mudo". É um fenômeno, mesmo. Não faltam ao partido pessoas inteligentes, gente com idéias, políticos experientes, mas o PSDB não tem voz, não tem fisionomia, não tem atitude, não tem metas partidárias -não tem caráter, enfim, qualquer caráter que fosse. É um bando de pequenos seres domesticados, servis, despersonalizados, inúteis a não ser para quem lhe dirige as rédeas.
Em seu favor só se pode dizer que está atualizado. Em tempos de neobobos de um lado e neoliberais de outro, o PSDB é a Neo-Arena. É lógico que seja o partido do governo apoiado por todos os ainda vivos arenistas da ditadura.
Confissão
Autor do relatório-projeto que ministros do Supremo Tribunal Federal consideram transgressor da Constituição, pelos privilégios eleitorais que dá à reeleição de Fernando Henrique, o senador Lúcio Alcântara defendeu esta sua obra máxima, em artigo na Folha de ontem, começando por sustentar que "lei eleitoral não é matéria para unanimidade".
Tem razão se considerado um certo tipo de lei, e não só eleitoral, mas de qualquer teor: lei indecente não alcança unanimidade e nem ao menos aceitação majoritária.
Lúcio Alcântara explicou há poucos dias, na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, sua concepção de lei: "Toda lei serve a interesses, não vamos ser hipócritas dizendo o contrário".
São palavras de um senador da República, meu caro leitor.

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