São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 1997
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52% dos nascimentos de SP acontecem por cesárea

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os dados constam de pesquisa divulgada ontem pela Fundação Seade, que estudou todos os nascimentos no Estado em 1996. Os números colocam o país como campeão mundial de cesáreas.
O procedimento, que deveria ser restrito a partos de risco, passou a ser regra no país. O resultado é um salto da mortalidade materna em até quatro vezes e aumentos nos riscos para a saúde da mãe e do bebê. "Uma cesárea representa para a mulher 12 a 30 vezes mais risco que um parto natural", diz Hugo Sabatino, obstetra, professor e membro do Grupo de Parto Alternativo da Unicamp.
Segundo o Rehuna -um grupo que luta pela humanização do parto-, as cesáreas significam risco de hemorragias, danos no sistema urinária e digestivo, inflamações do endométrio, peritonites, dificuldade na amamentação e limitação nas próximas gestões.
"Vivemos uma cultura da cesariana incentivada pelos obstetras e forçada pela falta de leitos e pela falta de infra-estrutura dos hospitais", diz a médica Simone Grilo Diniz, do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde.
Mesmo nos hospitais privados e que atendem por convênios médicos, as mulheres são levadas a marcar cesáreas com antecedência para garantir vaga e a assistência médica, diz Simone.
Estudos feitos pela médica Anna Volochko, do Instituto de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde, mostraram que as mulheres que dependem da rede pública em São Paulo chegam a percorrer 90 km e passam por três hospitais até conseguir uma vaga.
Outro estudo, realizado em uma região de São Paulo, mostrou que um terço das mortes maternas são decorrentes de cesáreas. Outro terço das mortes foi causado pela não realização da cesariana.
O estudo do Seade ainda revela que as mulheres mais cultas são as que mais realizam cesáreas. No período de 91 a 96, 84% das mulheres com mais de 11 anos de estudo realizaram partos cesarianos. Entre aquelas com menor instrução, o percentual foi de 29%.
A cesárea também é utilizada para a realização da laqueadura. Segundo o estudo, 74,4% das esterilizações em 1996 no Estado foram feitas durante cesarianas.

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