São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 1997
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Daúde busca o popular com seu som sofisticado

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

A cantora baiana Daúde, 35, lança no próximo dia 22 seu segundo trabalho, "#2", disposta a ampliar o alcance de sua obra pop iniciada com "Daúde", em 95.
Para começar, regravou um sucesso colossal dos anos 60, "Pata Pata", da sul-africana Miriam Makeba, afastando o chiste nacional que adaptava a letra em língua xhosa para "tá com pulga na cueca" e dando à canção tom noventista de pop "afrociberdélico".
A nova "Pata Pata", dividida com Carlinhos Brown, já infesta as rádios locais -mas não basta para ela. Antes apreciada por camadas mais elitistas do público -os "formadores de opinião", como define-, ela agora quer conquistar fãs em todas as classes sociais.
Para tanto, já percorre trajeto televisivo que não foge de programas populares como os de Hebe Camargo, Sula Miranda e Raul Gil (leia texto abaixo).
"Preciso atingir todo tipo de público, ser popular", diz. "Não quero me iludir. Ser popular não depende só do meu trabalho, mas de coisas que nem tenho capacidade de dominar. Mas vou buscar outras camadas do público, não quero ser uma cantora para platéias específicas."
Candeal e Rio de Janeiro
Daúde -aliás, Maria Waldelurdes Costa de Santana Dutilleux- nasceu, como Carlinhos Brown, no bairro do Candeal, em Salvador, um dos novos laboratórios de músicos brasileiros.
"É um lugar simples e extremamente musical. Lá acompanhava as serestas dos meus tios, folias de reis, novenas, festas religiosas."
Filha de militar -seu Vavá, citado na música "Véu Vavá", de Brown-, migrou aos cinco anos de idade para o Rio de Janeiro.
"A cultura do rádio foi muito forte na minha infância e adolescência. Ouvia Marvin Gaye, Michael Jackson, Lionel Richie, mas me identificava com as escolas de samba. Fui adquirindo uma cultura pop que não era tão regional."
Diz que por isso escapou do rótulo de "artista baiana" que cabe a muitos de seus conterrâneos.
"Estaria mentindo se usasse a coisa de ser baiana para acontecer. Minha música não é baiana ou carioca, não imito cantora americana. Não poderia cantar só bossa, tenho referência de Prince."
Diversidade e "#2"
Assim, após períodos como atriz de teatro e novela ("Fera Radical", na Globo), após a hegemonia do rock nos anos 80 e após a contração de mercado da era Collor, afinal a diversidade musical que ela propõe parece achar seu nicho.
"Antes, gravadoras vinham com propostas de me encaixar em gêneros específicos, de 'cantora gostosa'. Preferi esperar."
"Não quero me rotular como cantora moderna, mas o primeiro CD me traduziu muito bem, dentro de uma modernidade entre aspas, de referências, de brasilidade, de não aceitar concessões. O segundo é o prosseguimento disso."
"#2" tem produção de Will Mowat (da banda inglesa Soul 2 Soul), sambas de Nelson Sargento e Darcy da Serrinha, pop baiano ("Casa Caiada"), participação de Djavan (em "Vamos Fugir", de Gil), canções pop de Zélia Duncan, Paulinho Moska e Herbert Vianna.
A diversidade continua a ser sua senha, o que volta a aproximá-la do pop pernambucano do mangue beat. "Acho que há uma espécie de inconsciente coletivo. Eu ia gravar 'Maracatu Atômico' quando Chico Science gravou. Coincidências sempre vão existir."

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