São Paulo, sábado, 20 de setembro de 1997
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Direção do PT vai dar ultimato a Lula

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Luiz Inácio Lula da Silva vai receber hoje um ultimato da direção do PT sobre sua possível candidatura à Presidência da República em 98.
"Ou Lula toma a ofensiva política até quinta-feira ou volta a alimentar a busca de uma terceira via na sucessão presidencial", disse ontem o presidente do PT, José Dirceu.
O dirigente quer chegar quinta-feira na reunião dos dirigentes dos partidos de oposição, em Brasília, com o nome de Lula para apresentar aos possíveis aliados como um postulante à Presidência da República.
O Diretório Nacional do PT reúne-se hoje e amanhã em São Paulo, e Dirceu pretende fazer um pronunciamento pedindo o fim do vaivém de Lula, que alterna momentos em que se entusiasma com mais uma candidatura com outros em que praticamente a descarta.
"O Lula precisa se definir. Dezembro é muito tarde", declarou Dirceu, referindo-se ao mês planejado por Lula para o sim ou não definitivo.
A avaliação de Dirceu, que tem discutido sucessão presidencial com outros partidos de esquerda, é que não é possível continuar combatendo eventuais candidaturas presidenciais como a do ex-ministro Ciro Gomes sem que o PT apresente oficialmente a alternativa Lula aos possíveis aliados.
O presidente do PT acha, também, que a pesquisa do Datafolha que apontou Lula como o candidato que obteria o segundo lugar se a eleição presidencial fosse agora é um argumento a ser levado para a mesa de negociação.
"A pesquisa lavou a alma da gente", afirmou Dirceu. Para ele, os 22% ou 23% de intenção de voto atestados nas três simulações do Datafolha são mais expressivos ainda depois da sucessão de problemas que o partido viveu, como o caso Cpem e as saídas do governador Vitor Buaiz (ES) e da ex-prefeita Luiza Erundina.
Quarta-feira, Lula e Dirceu vão a Recife discutir a sucessão com o governador pernambucano, Miguel Arraes (PSB).
Genoino
Lula pediu na última segunda-feira que o deputado federal José Genoino concorra ao governo paulista. O interlocutor agradeceu a preferência, mas recusou.
Dirceu também foi escalado para tentar convencer Genoino a mudar de posição. "Genoino tem força na classe média e ocuparíamos o vácuo criado com a saída do Mário Covas do páreo", disse Dirceu.
Os argumentos de Lula e Dirceu não foram suficientes. Genoino tem razões pragmáticas e políticas para recusar a missão no Estado que tem se revelado hostil à pregação petista.
"Acho importante ter um mandato, e a eleição em São Paulo é muito difícil para nós", disse o deputado, hoje aliado das forças de "centro" do espectro petista.
Na análise política, Genoino acha que suas posições heterodoxas para a maioria petista poderiam inviabilizar uma campanha pacífica no partido.
"Tenho posições sobre estabilidade do funcionalismo, Plano Real e reformas, por exemplo, que não são hegemônicas no partido", declarou Genoino. As diferenças, no seu entender, o desautorizam a fazer um discurso de campanha que seja ao mesmo tempo sincero e respaldado pela legenda.
Se Genoino não mudar, o PT não tem uma alternativa que seja, hoje, viável eleitoralmente. O caminho mais provável é a candidatura do ex-prefeito de Ribeirão Preto Antônio Palocci.

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