São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 1997
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Nervosismo amplia envio de dividendos

Isenção de IR facilita remessas

ALEX RIBEIRO
EM SÃO PAULO

Os investidores estrangeiros adotaram uma postura de cautela em relação à política econômica brasileira e resolveram ampliar a remessa de dividendos ao exterior.
Para economistas ouvidos pela Folha, esse é a razão do salto que o Banco Central registrou em agosto no envio de lucros e dividendos.
Com esse desempenho, a remessa de lucros e dividendos assumiu o segundo lugar entre os itens que mais pesam no déficit do balanço de serviços, atrás apenas dos juros. "Agosto foi um mês com grande boataria e com toda a repercussão da crise da Ásia", diz o economista Felipe de Holanda, do Citibank.
"Sempre que há nervosismo no câmbio, aumenta a remessa de lucros e dividendos", afirma Adalto Lima, do banco BBA. Os economistas dizem que em agosto o envio de dividendos (remuneração recebida na aplicação em ações) superou em muito a remessa de lucros -e que esse seria mais um sinal de nervosismo.
Em agosto saíram US$ 739 milhões em dividendos, o que equivale a 35% dos US$ 2,109 milhões enviados nos oito meses de 97.
Para Lima, em momentos de nervosismo o investidor toma dois caminhos: fecha operações de seguro no mercado futuro ou simplesmente sai do país. No caso dos estrangeiros, ficou particularmente mais fácil sair do país, pois a remessa de lucros e dividendos ganhou isenção de Imposto de Renda a partir de 96.
"Na incerteza sobre o câmbio, o investidor tira o dinheiro do país e espera para ver o que acontece", disse o economista do BBA.
Para Holanda, o país sofreu muito mais o efeito da crise do Sudeste Asiático do que a desconfiança do investidor na economia brasileira.
"As coisas são pensadas em termos globais. Se o investidor perdeu dinheiro na Ásia, teve que recompor no Brasil, realizando lucros", disse Holanda.
Lucros
Exibidos pela equipe econômica como o ponto forte das contas externas, os investimentos estrangeiros na produção já podem estar provocando efeito negativo na remessa de lucros.
"Cresceu nos últimos anos o fluxo de investimento direto (compra de empresas e instalação de novas fábricas) e isso gera compromissos futuros, como remessa de lucros", disse o economista Paulo Nogueira Batista Jr.
O número não pára de crescer em 97. No resultado acumulado até 16 de setembro, já entraram US$ 11,27 bilhões.
Num movimento paralelo aos investimentos, a remessa líquida de lucros e dividendos saiu do patamar de US$ 3,501 bilhões, em 95, para US$ 3,841 bilhões, em 96. Até agosto de 97, o número já atingiu US$ 3,721 bilhões.

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