São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 1997
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O motorista

JANIO DE FREITAS

O motivo da crise de Sérgio Motta -não a crise pessoal, mas a crise com o PSDB- é apenas um repentino embatucamento seu com a geografia. É o que de melhor se pode concluir dos dois fundamentos expostos por Motta para sua briga com a cúpula partidária.
A desfiliação de Nilo Coelho do PSDB é indispensável, segundo Sérgio Motta, porque sua presença representa "a opção por oportunistas, antiéticos, preocupados exclusivamente com suas eleições". Sérgio Motta esteve sempre informado, como toda a cúpula peessedebista, das filiações com que Marcello Alencar vem engordando o PSDB, há anos. O que há de nilos coelhos nesse lote nenhum outro partido tem mais, no Estado do Rio. Só a tropa de Moreira Franco lhe é comparável.
Em dois anos e meio, a bancada do PSDB na Câmara cresceu 55%, tornando-se a segunda mais numerosa com a filiação de 34 eleitos por outros partidos. O agenciador dessas transferências foi Sérgio Motta. E se nesse agenciamento fossem aplicados "critérios éticos, ideológicos e programáticos", agora cobrados por Motta, as conquistas não chegariam nem a meia dúzia. O lema de Sérgio ficou impresso nos jornais: "O PSDB tem que crescer já". Quem discordou em nome da ética foi golpeado por Sérgio Motta com apoio de Fernando Henrique, como aconteceu ao então presidente partidário Pimenta da Veiga.
Por toda parte o PSDB foi aberto por Sérgio Motta para qualquer aderente. Só com a Bahia ele encasquetou. Lá o partido deve exigir vestais, nada de gente sob processo por formação de quadrilha, acusados de peculato e outras brasilidades.
E por que o ex-governador Nilo Coelho seria incompatível com o PSDB, na opinião geográfica de Sérgio Motta? Por ser "um homem que atropela um fotógrafo, que tem sócios estranhos no Panamá e nas Ilhas Cayman e é um dos mais ricos lá da Bahia". O atropelamento proposital diz muito de Nilo Coelho, sim, tanto quanto diz do Judiciário baiano, que o livrou de punição. Mas não consta que Sérgio Motta faça restrições aos grandes ricos de outros Estados, por exemplo, os paulistas de tão generosas contribuições a certos arrecadadores. E essa história de "sócios estranhos" só pode ser birra geográfica com o Panamá e as tais ilhas. Aqui mesmo, até o presidente da República tem um sócio estranho numa sociedade estranha.
Em pleno parafuso, Sérgio Motta dirigiu sua ferocidade -permanente, mas agora em estado agudo- para derrubar Teotonio Vilella Filho da presidência do PSDB, o "partido-ônibus" de que ele tem sido o motorista que dirige com as portas abertas e, além de não cobrar o que quer que seja, paga a quem entre.

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