São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 1997
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CBF 'ignora' anabolizante no Brasileiro

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

Substâncias apontadas pelos médicos do COI (Comitê Olímpico Internacional) como o grande mal do doping esportivo na década de 90 podem ser consumidas, sem risco de punição, pelos jogadores do Campeonato Brasileiro.
Os exames antidoping encomendados pela Confederação Brasileira de Futebol não controlam, por decisão da entidade, a presença de esteróides anabolizantes.
Os testes são feitos pelo Ladetec (Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico), órgão do Instituto de Química da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
A CBF pede, em contrato, que seja investigada, na urina dos atletas, a presença de resíduos de estimulantes, narcóticos e analgésicos.
A legislação (portaria 531/85, do Ministério da Educação, e resolução de diretoria 09/85, da CBF) determina o controle de anabolizantes, o que não é feito.
O motivo seria financeiro, de acordo com um dos coordenadores do Ladetec, Jari Nóbrega Cardoso, professor titular da UFRJ.
O laboratório realiza entre 1.200 e 1.300 exames em cada Campeonato Brasileiro, desde 1990.
Cada teste custa entre R$ 80,00 e R$ 100,00. Desde o ano passado, o Ladetec possui tecnologia para detectar anabolizantes.
O médico gaúcho Eduardo de Rose, uma das maiores autoridades do mundo em controle de dopagem e funcionário do COI, qualifica o Ladetec como um centro de excelência no país.
Jari Cardoso afirmou à Folha que a inclusão de anabolizantes na lista de substâncias a serem investigadas custaria mais R$ 80, por exame. Ao não fazer esse controle, a CBF e os clubes economizam, aproximadamente, R$ 100 mil.
Os anabolizantes são compostos que desenvolvem a massa muscular. Costumam ser utilizados clandestinamente por atletas que pretendem se tornar mais musculosos em pouco tempo.
O velocista canadense Ben Johnson, por exemplo, foi punido pelo COI por esse motivo.
A grande motivação da medicina esportiva para combater esses compostos (naturais ou artificiais) são os efeitos nefastos deles.
Como são hormônios, provocam problemas em vários órgãos (fígado, rins etc.).
Nos homens, podem causar impotência sexual. Nas mulheres, o desenvolvimento de pêlos.
O coordenador do Ladetec disse que o secretário-geral da CBF, Marco Antônio Teixeira, propôs a alguns clubes a fiscalização de anabolizantes, mas não houve disposição para bancar os custos.
"Talvez, no ano que vem, já queiram fazer", afirmou o professor. O Ladetec é o primeiro laboratório do país em processo de reconhecimento pelo COI.
O médico Osmar de Oliveira, especialista em exame de dopagem, afirmou que, no Campeonato Paulista, há controle de anabolizantes pelo laboratório contratado pela federação local.
A Folha procurou o secretário-geral da CBF, o doutor em química Marco Antônio Teixeira, para comentar o caso, mas ele não foi encontrado na entidade.

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