São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 1997
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Soprano mistura Puccini e Broadway

Kiri Te Kanawa canta na Austrália

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL À AUSTRÁLIA

A soprano neozelandesa Kiri Te Kanawa, 53, entregou seu timbre e sua voz por inteiro, sábado à noite, ao público que se deslocou até um vilarejo no meio do deserto australiano. Foi um recital da "Opera in the Outback".
Mas essa espécie de Woodstock "cult" não teve no repertório lírico o principal de seu cardápio. O espetáculo, que em tradução aproximada poderia se chamar "Ópera nos Confins", tornou-se vítima da mesma síndrome que atinge outras vozes do ramo, desde o sucesso comercial de Luciano Pavarotti.
Ao lado de árias de Giacomo Puccini, a cantora oscilou entre o popular da Broadway ou Hollywood e o politicamente correto, com canções maoris que interpretou com um coral feminino da etnia aborígine Adniamatanha.
Foi uma forma de contentar a todos, numa produção de U$S 3 milhões, com transmissão pela televisão pública australiana, e o próximo lançamento de um CD.
Nele, a soprano e a Sinfônica de Adelaide, dirigida por Robin Stapleton, enveredam deliciosamente por Lloyd Webber ou Irving Berlin, ou colocam em pé de igualdade o "sinfonismo" de Alexander Borodin (abertura de "O Príncipe Igor") e o tema do musical "Cats".
"Não é bem uma ópera, já que não se pretende produzir espetáculos inteiros", diz o empresário Robert Lott, organizador do evento. "Mesmo assim -diz Kiri Te Kanawa-, é um precedente para outros espetáculos semelhantes."
A experiência anterior nos "confins" da Austrália ocorreu em 1988. A próxima será no ano 2000, quando Sydney, a maior cidade dessa ilha de 18 milhões de habitantes e só um pouco menor que o Brasil, sediará os últimos Jogos Olímpicos do milênio.
Há uma dimensão ambientalista nessa versão australiana de Woodstock (festival de rock nos anos 60, nos EUA), que atraiu pessoas em média com mais de 40 anos, 600 delas, segundo os organizadores, vindas do exterior.
A absoluta inexistência de infra-estrutura permanente para hospedar tanta gente levou à montagem de acampamentos, o maior deles com 300 barracas, em que sacos de dormir deram lugar a colchões de mola. Carretas sanitárias forneciam banho quente e a comida à moda escoteira, ao ar livre, foi substituída por bufês acompanhados pelo bom Cabernet local.
Duas razões que afastaram o público mais jovem, presente nas óperas australianas de Sydney, Melbourne ou Adelaide (que estará montando em 1998 um "Ring" de Richard Wagner): as universidades não estão em férias na Austrália, e o pacote com ingressos para todos os espetáculos do evento -como o do saxofonista de jazz Don Burrows- custou em torno de U$S 500,00.

O jornalista JOÃO BATISTA NATALI viajou à Austrália como convidado da ATC (Australian Tourist Commission), órgão do governo.

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