São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 1997
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Indústria química

ANTONIO DELFIM NETTO

A Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química) possui um excelente Departamento de Economia, que reúne e analisa os dados relativos àquele importante setor da produção nacional. Ela acaba de publicar três interessantes documentos que, juntamente com o "Anuário da Indústria Química Brasileira -1996", permitem uma visão objetiva dos problemas do setor e dos seus ajustamentos a partir da abertura comercial de 1990, quando as tarifas médias dos produtos químicos foram reduzidas de 80% para 15%. Depois, com o Plano Real, o setor foi submetido a uma intensa valorização cambial.
Esses fatores tiveram efeitos devastadores sobre a rentabilidade do patrimônio líquido das empresas que estão na amostra da Abiquim. Ela passou de positivo (em torno de 8%) em 1988/89 para negativo (em torno de menos 4%) em 1990/93 para tornar-se negativo de novo em 1996.
A dramática redução tarifária exigiu quatro anos de intenso esforço de adaptação para voltar à rentabilidade positiva. Logo depois a valorização do câmbio submeteu o setor a outra pesada competição, que se mede pela ampliação das importações, que passaram de US$ 3,2 bilhões em 1989 para US$ 4,5 bilhões em 1993 e US$ 8,8 bilhões em 1996, registrando um aumento de 9% ao ano no primeiro período e de 25% ao ano no segundo período.
Esses efeitos, combinados com um aumento preguiçoso das exportações (que não cresceram entre 1995 e 1996), geraram um déficit comercial no setor da ordem de US$ 4,7 bilhões em 1996, próximo do déficit total do país no ano (US$ 5,5 bilhões).
O segundo trabalho ("Incentivos Fiscais") é muito interessante. O governo fala hoje com horror de uma "política industrial" que sugeriria a volta ao passado. A menos que tenhamos contado errado, existem hoje 64 programas com subsídios "fiscais e creditícios" federais e estaduais! Isso, obviamente, está próximo de uma des-política industrial, para a alegria dos "caçadores de renda"...
O terceiro trabalho, "O Custo da Mão-de-Obra na Indústria Química Brasileira", coloca um pouco de ordem na discussão desse assunto. Mostra que na indústria química o custo total da mão-de-obra é equivalente a 2,14 vezes o salário pago (salário base + horas extras + adicional de periculosidade + adicional de turno). Em outras palavras, os "outros custos" (que também são remuneração) representam 114% do salário efetivamente pago.
Outro ponto importante é que, graças à valorização artificial da taxa cambial, o custo total da mão-de-obra passou de US$ 15 por hora no primeiro semestre de 1994 para US$ 26 por hora no primeiro semestre de 1997, registrando um aumento de 20% ao ano! Haja aumento de produtividade para compensá-lo.
O aspecto otimista desses estudos é que, a despeito das dificuldades, o setor (graças aos incentivos fiscais e creditícios -isto é, déficit público) planeja um substancial aumento de investimento para tentar manter sua participação pelo menos no mercado interno.

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