São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 1997
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O avanço do capital estrangeiro

PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

Em entrevista nas páginas amarelas da revista "Veja" desta semana, o empresário Antonio Ermírio de Moraes botou a boca no trombone. "A indústria nacional está desaparecendo", declarou. Segundo ele, o governo "escancarou" a economia e "a médio ou longo prazo o mercado será dominado pelos estrangeiros".
Os dados parecem dar razão ao empresário. Em artigo recente, publicado nesta coluna em 21 de agosto, citei resultados do levantamento de 1997 da revista "Exame", referentes às maiores empresas não-financeiras do país. Considerando-se as 500 maiores empresas privadas e as 50 maiores estatais, a participação das estrangeiras aumentou de 32% das vendas em 1994 para 44% em 1996, enquanto a das estatais recuou de 24% para 20% e a das privadas nacionais, de 44% para 36%.
Segundo a mesma fonte, o capital estrangeiro predomina de forma esmagadora em diversos setores da indústria. Responde por 98% das vendas das 20 maiores empresas do setor de automóveis e peças, por 87% das vendas das 20 maiores do setor de higiene e limpeza, por 76% no setor de computação e 73% no farmacêutico.
No setor financeiro, o capital estrangeiro também vem avançando rapidamente desde o Plano Real. De acordo com levantamento da Austin Asis Consultores, citado na "Gazeta Mercantil" de segunda-feira passada, entre junho de 1994 e junho de 1997, a participação dos bancos estrangeiros aumentou de 10% para 17% dos ativos totais e de 9% para 15% dos depósitos totais do sistema financeiro brasileiro.
A tendência observada no Brasil parece estar na linha recomendada por Washington. Na reunião anual do FMI, em Hong Kong, o secretário do Tesouro dos EUA frisou que seu governo está "pressionando por um aumento substancial do acesso dos estrangeiros aos maiores mercados financeiros emergentes" nas negociações no âmbito da Organização Mundial do Comércio.
A expansão dos bancos estrangeiros já causa inquietação nos banqueiros brasileiros. O presidente da Federação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban), Roberto Setubal, declarou-se favorável à entrada de bancos estrangeiros no país, mas de acordo com regras de reciprocidade e dentro de alguns limites. Numa manifestação de nacionalismo econômico pouco característica dos porta-vozes do sistema bancário, Setubal argumentou que "o país que quer uma política monetária fiscal autônoma precisa de um sistema financeiro com predominância do capital nacional".
Mas essas preocupações não parecem encontrar ressonância no governo brasileiro. Um alto funcionário do Banco Central declarou-se "indiferente" ao controle nacional ou estrangeiro de bancos e outras empresas, segundo relatou o enviado especial da Folha a Hong Kong.
Essa indiferença teria cabimento se se pudesse imaginar que as empresas pairam acima das nações e não apresentam qualquer viés em relação a seu país de origem. No entanto, a grande maioria das empresas ditas "transnacionais" possui um centro de gravidade nacional claramente identificável.
Mesmo as grandes empresas, que tendem a ser mais internacionalizadas do que as pequenas e médias, permanecem marcadas por sua origem nacional. A maior parte das corporações da Europa, dos Estados Unidos e do Japão concentra sua atuação nos respectivos países. Funções estratégicas, como pesquisa e desenvolvimento, e as atividades geradoras de maior valor adicionado tendem a se realizar no país de origem. Corporações verdadeiramente transnacionais são raras, especialmente nas economias de maior porte, que contam com amplos mercados internos.
Antonio Ermírio observou, com razão, que o governo brasileiro deveria ser mais severo em relação à entrada de empresas estrangeiras, como fazem os países desenvolvidos. Enquanto o Brasil se deixa iludir pela retórica da "globalização" e das corporações "transnacionais", os governos dos países mais adiantados continuam fazendo o que podem para ajudar suas empresas nacionais, tanto no mercado interno quanto no externo.
Banco Central
Em resposta à notificação judicial criminal do Banco Central, recebi diversas manifestações de solidariedade de leitores, amigos, parlamentares, jornalistas e do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro. Agradeço, também, o apoio e a orientação dos advogados Evandro Lins e Silva e Osiris Lopes Filho e, em especial, da Folha,cf2, que colocou à minha disposição o advogado Luís Francisco Carvalho Filho.

E-mail pnbjr@ibm.net

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