São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 1997
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Tucano é 'Pedro Collor' de FHC, diz Brizola

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de se reunir por quase duas horas ontem, em Brasília, com Miguel Arraes, o ex-governador do Rio Leonel Brizola disse que Ciro Gomes "é uma espécie de Pedro Collor político contra o Fernando Henrique".
Sempre mais simpático do que refratário a uma eventual candidatura de Ciro a presidente, Brizola disse que o dissidente tucano precisa explicar mais sua idéias. Considera que sua eventual candidatura "tem muitos aspectos simpáticos e realistas", apesar de ser, ainda, uma incógnita eleitoral.
(FR)
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Folha - Como foi sua reunião com Miguel Arraes?
Leonel Brizola - Foi muito boa, uma declaração de intenções. Mas ainda enfrentamos dificuldades para a formação da frente. A principal está nas questões regionais. A segunda é a escolha do nome.
Folha - Qual é a sua avaliação sobre Ciro Gomes?
Brizola - Ninguém sabe, a rigor, o que ele será em termos eleitorais. Se vai ser uma disparada. Ou se será um fiasco. Mas, não há dúvida de que ele representa um potencial fortíssimo hoje. O Ciro Gomes é uma espécie de Pedro Collor político contra o Fernando Henrique.
Folha - O sr. o considera como um dos nomes possíveis para encabeçar uma chapa contra FHC?
Brizola - Se o governo perceber que ele tira votos do Fernando Henrique, vão cair matando em cima dele, para massacrá-lo.
Folha - Mas o governo não tentaria massacrar qualquer candidato que ameaçasse a reeleição?
Brizola - Claro. Mas, conosco é diferente. Temos a casca dura. Temos o lombo curtido por ter sido oposição a vida toda.
Folha - Arraes lhe disse algo sobre o destino partidário de Ciro?
Brizola - Disse que o PSB está esperando para recebê-lo. É uma coisa natural. Se ele viesse bater à portas do PDT, é uma questão de direitos humanos. Mas, é claro, teria de assumir um compromisso com os estatutos do partido.
Folha - Ciro Gomes tem dito que um eventual governo seu seguiria o que está expresso no livro que ele escreveu junto com Mangabeira Unger, sobre formas de controlar o sistema capitalista. O sr. concorda com esse livro?
Brizola - O livro contém idéias gerais. É bem razoável. Mas ele (Ciro) tem avançado com alguns conceitos ultimamente. Tem dito que reclama por mais velocidade nas privatizações. Sem dizer que tipo de privatização. Nas telecomunicações, por exemplo, nós admitimos, no máximo, uma parceria. Ninguém deve esperar de nós (PDT) negociações oportunistas.
Folha - Mas que avaliação o sr. faz da situação hoje de Ciro Gomes em relação à possível formação de uma frente de centro-esquerda?
Brizola - Tenho a impressão que ele tem uma combinação com Itamar Franco. Se Itamar for candidato, ele não o será. E vice-versa. Mas sua candidatura tem muitos aspectos simpáticos e realistas. Ele está procurando aquela linha plebiscitária que o presidencialismo brasileiro permite. Vai fazendo um linha lateral, contornando as estruturas e se apresenta, transbordando lá na frente, como opção contra todo o sistema. É, em certa medida, o que fez o Getúlio Vargas em 50. E, depois, o Jânio Quadros.
O Ciro é um dissidente que vem eventualmente disputar o voto popular. Mas temos que ver, primeiro, o Ciro queimar os navios. Temos que conhecer as suas idéias.

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