São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 1997
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Comportamento de risco volta com força total

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Você aí, solteiro e sem relacionamento estável, seja honesto: nos últimos 12 meses, quantas vezes você transou sem camisinha?
Submeti essa pergunta a um grupo de cinco amigos heterossexuais, com idades variando entre 23 e 27 anos. E quase caí de costas com a resposta. Meus chapinhas, todos recém-formados e de classe média alta, informaram-me, na maior candura, de que não usam preservativo. "Nunca conheci ninguém que tivesse pego Aids, por que deveria usar camisinha?", perguntou-me um deles.
Uma pesquisa do Datafolha, publicada neste jornal, em caderno especial dedicado à visita do papa, revela que 96% dos católicos entrevistados é a favor da camisinha para evitar doenças como a Aids.
Meus jovens amigos serão todos budistas ou ser favorável à camisinha nada tem a ver com o uso da própria?
O relaxamento nos cuidados para se evitar a Aids não é uma prerrogativa tapuia. Segundo informa a "Newsweek" desta semana, a prática do sexo seguro também está caindo em desuso nos EUA.
Entre gays, a tendência pode ser confirmada pelos usuários das salas de bate-papo da Internet. Diz a "Newsweek" que nessas salas difundiu-se o mito de que a Aids virou uma doença crônica, tão fácil de ser tratada quanto um resfriado.
Essa mudança de hábito encontra respaldo nos tratamentos atuais, que prolongam a vida dos soropositivos, e na droga do dia seguinte, um coquetel de medicamentos usado para tratar os funcionários de hospitais e laboratórios, contaminados acidentalmente pelo vírus HIV. Aplicado imediatamente após o contato com o vírus, esse coquetel reduziria as chances de contaminação em até 79%.
O tal medicamento do dia seguinte está sendo usado a torto e a direito pelos gays de alto poder aquisitivo. Existe até um novo termo para designar o ato de se transar sem proteção. Trata-se do "barebacking" (em uma livre tradução, algo como o desnudar das costas, ou melhor, dos fundilhos).
É transar e bater na porta do médico particular no dia seguinte atrás de uma receita. Dane-se se daqui a pouco ficar comprovado que o coquetel criou uma variação ainda mais resistente do vírus.
No ano passado, as mortes causadas pela Aids caíram 23% nos EUA. Nos próximos anos, é esperar para ver.

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