São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 1997
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Kirk Douglas repensa vida em biografia

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DE NOVA YORK

"Obedeçamos nossa voz interior. Ela pede que ajudemos o próximo. Conservando a capacidade de nos doar, continuamos vivos. Os velhos ficam muito centrados neles mesmos, com suas doenças e diminuição de capacidades, e param de se doar. Mas quando você pára de se dar, você morre."
Não, não se trata de uma das últimas declarações da madre Teresa de Calcutá. A autoria das frases é do ator Kirk Douglas, que acaba de lançar nos Estados Unidos mais um livro autobiográfico.
Octogenário, com os problemas de saúde que tem enfrentado, Kirk foi levado a repensar toda sua vida.
Tudo começou em 13 de fevereiro de 1991, quando o helicóptero em que estava o ator colidiu com um avião com dois tripulantes, Lee Manelski, 46, e David Tomlinson, 18. Os dois morreram na hora.
"Foi o início dos meus questionamentos filosóficos", contou Kirk Douglas. "Por que eu, um cara então com 74 anos, sobrevivi, e dois jovens, que podiam ser meu filho e meu neto, morreram?"
O tempo que passou preso a uma cama, tratando uma forte dor de coluna que adquiriu no acidente, levou o ator a uma viagem espiritual e às suas raízes judaicas.
Nascido Issur Danielovitch, filho de judeus russos, Douglas, que adotou esse nome nos Estados Unidos, estava, desde a infância, afastado da religião.
Mas, a partir de 1991, voltou a se interessar pelo judaísmo, passando a procurar na Torá, o livro sagrado dos judeus, a resposta para as questões que o incomodavam.
O resultado é o livro "Climbing the Mountain - My Search for Meaning" (em português, Subindo a Montanha - Minha Procura pelo Significado da Vida).
Enquanto autografava seu livro em Nova York, Douglas declarou à Folha que dois dos principais ensinamentos que tirou das fases mais difíceis de sua vida foram a importância de se manter produtivo e de estar sempre rodeado de amigos.
"É assim que você se mantém jovem. Quando fiquei debilitado (depois do acidente aéreo, Douglas ainda teve um derrame, que o chegou a impedir de falar), todos queriam fazer tudo por mim. Com pena de mim mesmo, no começo até deixava. Depois, não."
Após o derrame, chegou a se desesperar com a possibilidade de não mais poder atuar. "Sem falar nem andar, como iria representar?"
Mais tarde, no entanto, tranquilizou-se. "Percebi que podia ajudar os outros de outras maneiras. Escrevendo, por exemplo."
No relato de suas experiências, uma de suas preocupações foi a de manter o bom humor. "Rir é um dos segredos da vida."
Em várias passagens, é possível perceber o espírito brincalhão do ator. Numa delas, por exemplo, "vinga-se" de sua neta Kelsey.
Depois do derrame, ficava irritado com o fato de ela, aos 3 anos de idade, falar melhor que ele. Após muitos exercícios vocais, no entanto, Douglas a ultrapassou. "Dizia: 'Kelsey, você consegue falar transcontinental?". "Ela não conseguia. Percebi que já falava como uma criança de 6 anos."
Em outra, emocionado com o filme "a Lista de Schindler", manda uma carta para o diretor Steven Spielberg -que no ano passado, junto com a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, homenagearia Douglas com um Oscar por sua atuação em mais de 80 filmes-, dizendo que iria o adotar.
Como resposta, Spielberg dizia aceitar a adoção. Kirk, então, brincou, dizendo ter feito um bom negócio. Afinal, segundo ele, o cineasta é ainda mais rico do que o ator Michael Douglas, um de seus quatro filhos verdadeiros.

Livro: Climbing the Mountain - My Search for Meaning
Lançamento: Simon & Schuster
Quanto: US$ 21,60 (269 págs.)

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