São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 1997
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EUA vivem nova separação racial

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Os EUA comemoraram ontem o 40º aniversário da primeira ação oficial a forçar a entrada de estudantes negros em escolas públicas até então reservadas a brancos.
Mas o país vive desde os anos 80 um processo acelerado de retorno a escolas públicas com maiorias absolutas de estudantes de uma só raça. No Estado de Nova York, Costa Leste, por exemplo, só 15% dos estudantes negros estão em escolas com maioria branca. Na Califórnia, Costa Oeste, apenas 20%.
A mudança ocorreu não apenas porque os governos conservadores de Ronald Reagan (1981-1989) e George Bush (1989-1993) e os juízes federais e da Suprema Corte nomeados por eles reverteram muitas decisões anteriores que forçavam a integração racial no sistema de ensino público.
Muitas comunidades e um número crescente de lideranças negras acham que o combate à segregação nas escolas fracassou. Por causa dele, argumentam, dezenas de milhares de famílias brancas tiraram seus filhos das escolas públicas, e os governos locais, que sustentam o ensino de primeiro e segundo graus, deixaram de considerá-lo uma prioridade. O resultado tem sido uma sensível queda na qualidade do ensino ministrado.
O problema parece ser agora mais de classe do que de raça porque famílias negras com altos níveis de renda também estão colocando suas crianças em escolas particulares que cobram mensalidades em torno de US$ 1.000. Os filhos do pastor Jesse Jackson, duas vezes pré-candidato à Presidência dos EUA, por exemplo, estudaram no St. Alban's, uma das escolas de elite de Washington, onde foram colegas dos filhos do vice-presidente Al Gore. As crianças de Vernon Jordan, conselheiro pessoal do presidente Clinton, frequentaram a Sidwell Friends, onde Chelsea se formou no ano passado.
Mesmo nas escolas onde a integração forçada continua a ser mantida, a tendência geral é de estudantes negros se concentrarem e manterem todas as suas atividades sociais e acadêmicas entre si. São cada vez mais frequentes as solicitações de estudantes negros às escolas para que sejam criadas salas de estudo só para negros e associações de alunos negros.
Pesquisas de opinião pública mostram que os norte-americanos têm sentimentos confusos em relação ao problema. Uma delas, do Instituto Gallup, por exemplo, revela que, embora 56% dos entrevistados (52% dos brancos e 84% dos negros) concordem com a tese de que é preciso fazer mais para integrar as escolas, 47% dos brancos e 60% dos negros afirmam que a maneira ideal de melhorar o desempenho escolar dos negros é aumentar as verbas das escolas de maioria negra, não levá-los para as escolas de maioria branca.
Os especialistas em educação discordam sobre os progressos obtidos nos últimos 40 anos pelos estudantes negros como resultado da integração forçada. No período, o fosso entre o desempenho médio do estudantes negros e brancos que completam o colegial diminuiu em 30%, mas é difícil estabelecer qual foi o peso relativo da variável integração racial (em relação à melhoria geral das condições de vida dos negros no mesmo período) para que isso ocorresse. Mesmo os defensores mais radicais da integração forçada admitem que pode ter sido pequeno.
As decisões das cortes federais contra a integração forçada foram tomadas com base no princípio de que são as comunidades que pagam as contas das escolas públicas e, por isso, elas devem ser autônomas. Cidades como Denver, Cleveland, Oklahoma City e Norfolk são algumas das que resolveram, após essas decisões judiciais, encerrar a experiência de transportar estudantes negros para escolas de maioria branca e restabelecer o princípio de que as crianças devem estudar na escola mais perto de sua moradia, o que, na prática, faz voltar a segregação ao ensino.

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