São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997
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Os bancos na defensiva

CELSO PINTO

Nunca, nos últimos 30 anos, os grandes bancos brasileiros viram seu futuro de forma tão incerta. Alguns receiam uma ampla desnacionalização, outros, uma "guerra de 'spreads' ". Todos esperam grandes mudanças.
A entrada no Brasil do maior banco do mundo, o Hongkong and Shanghai Banking Corp (HSBC), ao comprar o Bamerindus, foi o susto inicial. O HSBC entrou apostando que existe espaço para todos crescerem. Em termos líquidos, só uns 15% da população tem conta bancária, e o crédito em relação ao PIB é muito baixo em padrões internacionais.
Ao contrário do que tanto se repetiu no passado, não haveria excesso, mas falta de bancos, supondo que a estabilidade econômica persista. Nem todos concordam.
Um alto executivo de um grande banco acha que o mercado que interessa é e continuará sendo pequeno. O que vem à frente, portanto, é uma enorme competição que vai levar a uma forte redução nas margens de lucro ("spreads") e inviabilizar alguns grandes bancos. Se não houver limites à participação dos estrangeiros, diz, eles dominarão tudo, como aconteceu na Argentina.
O presidente do Itaú e da Federação dos Bancos, Roberto Setúbal, é um dos que estão preocupados. Ele já defendeu a idéia de que o Banco Central fixe um limite para a participação dos estrangeiros entre os bancos de varejo. Gustavo Franco, em Hong Kong, deixou claro que não aceita nenhum limite. "Que vença o melhor", definiu.
Uma questão crucial, tão importante quanto a entrada do HSBC, será o futuro do Banespa. Alguns grandes bancos gostariam de ver o Banespa não privatizado, mas fechado, uma forma de reduzir a pressão, supondo que o mercado está com excesso, e não escassez de bancos.
Setúbal diz que isso seria o ideal, mas reconhece que é politicamente inviável. A segunda melhor alternativa, que ele acha factível, seria dividir o Banespa em dois. Franco também já disse que está fora de cogitação.
Se um estrangeiro comprar o Banespa, fará grande diferença, admite Setúbal. Ele, contudo, duvida que isso aconteça. O Banespa deve perder as contas do Estado de São Paulo e, como o Itaú constatou comprando o Banerj, a complicação encontrada em bancos estaduais pode desestimular compradores externos.
Setúbal acha que os quatro grandes -Bradesco, Itaú, Unibanco e Real- podem viver mais uma década com qualquer competição. Cada um deles, na verdade, está se posicionando para sobreviver.
O Itaú é comprador, como mostrou no caso do Banerj. O Bradesco vacilou na compra do Banerj, por diferenças de opinião em sua direção, mas reagiu com a disposição de abrir mais agências. O Unibanco comprou o Nacional e reforçou o banco de investimentos e a seguradora.
O Real tem uma estratégia diferente. Manteve a rede de agências e dobrou a produtividade. Sua direção avalia que comprar bancos não garante, em si, ganhos de produtividade.
Uma das razões pelas quais o Real acha que vai sobreviver é sua forte presença latino-americana. Grandes concorrentes estrangeiros que já estão no Brasil (HSBC e Santander) ou vão entrar (Bilbao Viscaya) têm posições dominantes em vários mercados latino-americanos e, claramente, querem tirar proveito disso. O Real acha que pode ser um banco latino-americano.
O Itaú montou um banco em Buenos Aires, com o objetivo de ter uma participação relevante no mercado varejista argentino. Foi pego de surpresa com a rápida e total desnacionalização dos bancos argentinos. O plano original era ter 35 agências, mas ele está sendo reestudado, diz Setúbal. Talvez o Itaú seja obrigado a ampliar a escala na Argentina.
Em princípio, nenhum lugar está garantido no mercado brasileiro. Os quatro grandes não querem vender o controle, mas outros grandes bancos, como o Excel Econômico, não só já têm sócios externos, como estão abertos a conversas e negócios. A maior participação externa, para alguns bancos, é oportunidade, não risco.
Se o mercado se abrir de vez, contudo, a venda ou associação com bancos externos pode se tornar irresistível. Se todos se convencerem de que os estrangeiros acabarão dominando, será preciso escolher o momento certo para vender. Quem demorar demais vai perder dinheiro.

E-mail: CelPinto@uol.com.br

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