São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997
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Estrangeiro avança no setor bancário

VANESSA ADACHI
DA REPORTAGEM LOCAL

O sistema financeiro nacional, apesar de criticado pelo seu regime fechado e pela ausência de regras claras para o ingresso de instituições de outros países, foi alvo de uma verdadeira enxurrada de capital estrangeiro neste ano.
Com a provável aquisição do BCN (Banco de Crédito Nacional) pelo espanhol Banco Bilbao Vizcaya (BBV), a participação das instituições estrangeiras no total de ativos do sistema bancário privado nacional, que era de 9,5% no final de 1996, deverá chegar a 22%, ou R$ 61,4 bilhões.
O salto da participação estrangeira é detectado por estudo da consultoria Austin Asis feito para a Folha. O trabalho considerou as demonstrações financeiras do primeiro semestre. O resultado inclui os dados do BCN na mesma data.
Além da operação envolvendo BCN e BBV -que seria a maior do gênero até o momento-, dois outros negócios de porte contribuíram para engordar o número: a compra do Bamerindus pelo HSBC, em março, e a do Noroeste pelo Santander, em agosto.
Patamar latino
Com esses últimos negócios, a abertura do sistema bancário brasileiro se aproxima da dos seus vizinhos da América Latina.
Em junho (antes, portanto, da venda do Noroeste), um estudo do banco de investimentos norte-americano Salomon Brothers colocava o Brasil em último lugar entre os sete maiores países da região em termos de penetração do capital estrangeiro no sistema bancário.
O estudo do banco mostrava que, na época, a participação dos estrangeiros no total de empréstimos feitos no país era de apenas 10% para uma média de 20% na região, excluindo-se o Brasil.
O nível mais elevado de penetração acontece na Argentina e Venezuela, ambos com 35%.
Segundo o estudo da Austin, as operações de crédito dos estrangeiros, contando já com a venda do BCN, chegariam a 18,1% do total do setor bancário privado nacional (a pesquisa exclui os bancos públicos). No final de 1996, o percentual era de 4,3%.
Para Augusto Lange, analista do Banco Patrimônio, associado ao Salomon, crescer a participação de estrangeiros no Brasil é tarefa muito mais difícil.
"O Brasil é muito maior que os demais da América Latina e um investimento de médio porte aqui custa muito mais", afirma ele.
Lange diz que para fazer todas suas aquisições na América Latina o Bilbao desembolsou cerca de US$ 1,5 bilhão, enquanto que o investimento previsto somente para o Brasil é de US$ 1 bilhão.
O crescente ingresso de estrangeiros no país é visto como um exercício saudável por muitos, como o diretor-geral do Banco Real, Renê Aduan, que considera a concorrência o principal benefício.
Mas nem todos pensam assim. "O Banco Central deve estar atento para não abrir demais o mercado, sob risco de se perder a soberania sobre o sistema", avalia o consultor Erivelto Rodrigues, da Austin Asis.

LEIA MAIS sobre participação crescente do capital estrangeiro no sistema bancário nacional na pág. 2-12

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