São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997
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Escrever para criança não é brincadeira

LIA REGINA ABBUD
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem não lembra de "Menino Maluquinho", de Ziraldo, e de "Marcelo, Marmelo, Martelo", de Ruth Rocha. Escritores desse escalão, cujas obras ultrapassaram a marca de 1 milhão de cópias vendidas, são eternos, e seus livros, passam de geração para geração.
Para quem pensa em se aventurar nesse mercado, as estatísticas apontam para um crescimento no mercado. Segundo a Câmara Brasileira do Livro/Fundação João Pinheiro, foram produzidos 1.295 títulos infanto-juvenis, em 91; 2.102 títulos, em 92; e 2.563, em 96.
Ziraldo, 64, diz que as editoras estão investindo no segmento infantil. "As escolas têm mostrado aos alunos a literatura como atividade prazerosa, mas, para conseguir ser o escolhido delas e dos pais, é preciso se destacar."
As dificuldades são muitas, principalmente para os novatos, mas "quem tem talento fura qualquer bloqueio", garante Ziraldo.
Para ele, que está no mercado há 17 anos e vende cerca de 100 mil livros/ano, o iniciante deve prestar atenção aos concursos. "É uma boa forma de se lançar."
Ruth Rocha, 66, também acredita que a literatura infantil esteja em pleno crescimento desde a década de 70. "Os livros infantis deixaram de ser passatempo para se tornar realmente literatura, com objetivos e funções mais sérias."
Mas escrever para criança não é brincadeira. "Quem não leu pelo menos 2.000 títulos, não tem padrão de linguagem suficiente. Não dá para começar", ensina Ruth.
Os dois escritores afirmam que, no início, não é possível se manter só com o lucro dos livros. De acordo com Ruth Rocha, uma boa história só começa a dar dinheiro para o autor depois de um ano.
Leila Bortolazzi, 36, editora de livros infantis da Melhoramentos, diz que o mercado está de portas abertas para novas safras. Mas quem está começando deve pensar no que tem para oferecer.
"Fazer histórias sem nada de especial e pensando que a criança fica contente com qualquer coisa é um mito. É preciso acrescentar algo, formar o pequeno leitor."
A editora recebe mensalmente cerca de 40 novos títulos de livros infanto-juvenis, dos quais apenas 1 consegue seguir no mercado.
O pagamento dos escritores é feito de acordo com a venda dos livros. Geralmente, recebem uma porcentagem entre 8% e 10% sobre o preço de capa a cada trimestre.
A tiragem para escritores em início de carreira é de 1.000 a 2.000 cópias. Escritores com algum tempo no mercado recebem um adiantamento, que varia entre R$ 500 e R$ 1.000, e continuam recebendo os royalties sobre as vendas. A tiragem, nesses casos, aumenta para 3.000 a 5.000 exemplares.
Os escritores conceituados recebem um adiantamento de R$ 2.000 a R$ 3.000 e royalties, mas a tiragem nunca é menor que 10 mil. Segundo Leila, para o salário ser significativo, é preciso que a tiragem seja alta e que as vendas sejam feitas em um curto espaço de tempo.

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