São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

China repete jogada de Deng e muda lema

JAIME SPITZCOVSKY
DA REDAÇÃO

Jiang Zemin, o presidente da China e secretário-geral do PC chinês, cultiva o hábito de ler livros de história de seu país, em busca de soluções encontradas por dirigentes do passado.
No 15º Congresso do Partido Comunista, terminado no último dia 18, Jiang consolidou seu poder e resolveu apagar o slogan "falar de política", tônica de seus discursos no ano passado. O presidente sentenciou que agora é o momento de "falar de economia" e acelerar a velocidade das reformas que modelam o neocapitalismo chinês.
Jiang, para 1997, não precisou recuar muito na milenar história chinesa para copiar soluções. Foi buscar já em 1992, para resolver desafios atuais, uma jogada de seu padrinho político e arquiteto das reformas pró-capitalismo, Deng Xiaoping, morto em fevereiro.
Em 1989, onze anos depois de iniciadas as reformas, Deng patrocinou a violenta repressão ao movimento pró-democracia da praça Tiananmen.
O risco representado pelo desafio dos estudantes chineses, o maior já promovido ao monopólio do poder comunista, fortaleceu os setores ortodoxos do PC, que apontavam o avanço das reformas como "estímulo à subversão".
Deng entendia que a marcha rumo ao capitalismo era um caminho sem volta. Não haveria outra alternativa para tirar a China do crônico subdesenvolvimento.
Em 1992, com a saúde já bastante debilitada, Deng viajou pelo sul do país. Foi uma peregrinação pelos pólos mais desenvolvidos do neocapitalismo chinês e o mestre da alquimia comunismo-capitalismo reafirmou então a necessidade de a China retomar um crescimento econômico acelerado. A ameaça maior à sobrevivência do PC, argumentava Deng, já não eram os estudantes, mas a chance de as reformas econômicas fracassarem.
O ano passado trouxe reminiscências do período pós-1989. A piora no estado de saúde de Deng deixava seus sucessores inseguros e levava-os a priorizar o slogan "falar de política", em vez de "falar de economia".
Jiang enfatizava então "valores espirituais do socialismo", numa tentativa de fortalecer o PC. Vitorioso no Congresso do partido, ele optou por correr os riscos de acelerar as reformas econômicas.
(JS)

Texto Anterior: Comunistas preparam 'século capitalista'
Próximo Texto: China; Vietnã; Coréia do Norte
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.