São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997
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'El Cid' mimetizou o regime militar

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Outro dia estava Cláudia Jimenez a arremedar Cid Moreira no "Casseta e Planeta". Mas é raro que se fale dele hoje. A Voz, apelido que herdou de Heron Domingues, o Cid Moreira do "Repórter Esso", está algo esquecida em seus editoriais e na idade que as plásticas não escondem mais.
Foram pelo menos quatro, a primeira pouco antes de estrear com o "Jornal Nacional" em 1º de setembro de 1969, em plena vigência do AI-5. Não foi a primeira face da integração nacional, ideal do regime.
Hilton Gomes proferiu as palavras mágicas: "O Jornal Nacional da Rede Globo, integrando um novo Brasil, inaugura-se neste momento." Mas ninguém era páreo para "El Cid", que entrou em seguida: "Para vocês, a escalada nacional de notícias."
Cid Moreira foi a cara da ditadura. Mimetizou o regime em seu rosto, não na opinião, que inexistia (a maior revolta contra os militares foi implicar com o nome Geisel). O resto do corpo inexistia -Walter Clark dizia que ele apresentava o "JN" de bermudas.
Um rosto que se esforçava em nada expressar, primeiro com silicone, depois a gordura tirada da barriga para substituir o silicone que escorria. O problema maior em duas décadas de autoritarismo foi um sulco na testa, que deixava o semblante pesado, o que era impensável.
Também tirou a papa e virou um lactofrutivegetariano. Casou-se com a cabeleireira e é ele quem, na secretária eletrônica do telefone do salão, indica tratamentos de beleza.
Foi o "bugio branco" da alcunha dada por Leonel Brizola, foi sua face tranquilizadora que manteve o Brasil extático quando caía o general Sílvio Frota ou morria Wladimir Herzog.
A face e a voz, dona de um fascínio irracional, pentecostal, que vai muito além da técnica. (Não é à toa que está gravando todo o "Novo Testamento".)
Voz que é toda ela carisma, na expressão e exaltação de ninguém menos que Boris Casoy, que começou no rádio tomando Cid Moreira, então também no rádio, como modelo.
A Voz come alho cru e masca gengibre até hoje, exilado nos editoriais de Roberto Marinho. Eternamente a voz e a máscara do Grande Irmão.

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