São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997
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Campeão de audiência

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há alguns anos, lá pelo final da década de 80, o Brasil todo só queria saber de uma coisa: "Quem matou Odete Roithman?". A pergunta mudou os hábitos em prática: o jantar teria de ser mais cedo, ou mais tarde. O teatro abriria suas portas só depois das 21h30 para que o público pudesse acompanhar o desenrolar da trama. A sessão das 20h no cinema ficava às moscas.
Na década seguinte, as coisas mudaram mais ainda. Todos têm pelo menos dois televisores em casa, veio a TV paga, o brasileiro tem na mão o controle remoto, e quase todas as emissoras fazem novela, com exceção da embaraçosa CNT, que só apresenta produções mexicanas.
Se lá pelos anos 80 um ator "se queimava" por estar fazendo algo que não fosse na primeira emissora, hoje esse mesmo ator circula entre todos os canais. Diluiu-se a audiência. As pessoas, mais pobres do que eram nos anos 80, tomam ônibus ou enfiam seus carros em engarrafamentos intermináveis. Não chegam em casa a tempo de assistir a novela das 18h, e com sorte, ainda pegam o letreiro final da novela em forma de "cartoon" estrelada por Fernanda Montenegro, ou a embaraçosamente amadora "Chiquititas", produção "cisplatina" que não convence nem como comercial.
No horário que foi um dia de "Vale Tudo" o público tem opções em todos os canais. Se curte uma novela, tem uma para cada gosto. Se gosta de dramas da vida, real, idem. Se o mau gosto o diverte, nada melhor que "Alô Cristina" (desculpem, mas não sei soletrar aquele monte de novas letras "numerologicamente corretas") ou os clones de Ricki Lake.
Emissoras pra um público exigente, continuam aí, com seus balés e concertos. Temos, graças ao controle remoto, desenhos animados 24 horas por dia, filmes, seriados, noticiários.
As emissoras abertas colocam no ar notícias de hora em hora. Agências de atores têm um dia cheio para preencher os elencos das muitas produções em andamento.
Márcia Real e Miriam Mehler contracenam com as belíssimas Tereza Athayde e Lilyá Virna em "Canoa do Bagre" na Record. Roney Vilela entra em cena junto a Andréa Avancini na bem produzida "Mandacaru" da Manchete. Na Cultura, "Nossa Língua Portuguesa" vira um "cult"; começa o Canal da Cidade, e a Bandeirantes tem uma mesa cheia de projetos. No final do século, e há quase 50 anos de sua inauguração, a TV não está parada.
Muito se prepara. Acabando o trânsito, teremos muitas opções. Em três anos, não seremos somente o país que pára para assistir "Vale Tudo". Seremos o país que pára, em família, para ver a TV brasileira. Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar que tem controle remoto!

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