São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 1997
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Torresmo e Fuzarca

JOÃO SAYAD

Muitos anos atrás, o sucesso da TV Tupi para as crianças eram os palhaços Fuzarca e Torresmo.
Fuzarca era o palhaço mais esperto, como o Gordo em relação ao Magro. Torresmo era o palhaço mais gozado e simpático, que assumia o papel de vítima, mas acabava impingindo as maiores derrotas ao Fuzarca. O Fuzarca, esperto, acabava sempre com a cara suja de farinha ou molhado pelo balde de água.
O quadro mais emocionante tinha sempre o mesmo enredo. O Torresmo entrava no picadeiro seguido por um grande gorila. A criançada começava a gritar: "O macaco! O macaco!" O Torresmo virava e o gorila continuava escondido, nas suas costas. Quanto mais ameaçador o gorila, mais gritos da platéia e mais longa era a cena.
Estou preocupado com a Malásia. Não falo do câmbio da Malásia. Falo das madeireiras da Malásia que se instalam na Amazônia.
Segundo a revista "Veja", essas empresas são responsáveis pela devastação florestal daquele país e de alguns outros. Vieram para a Amazônia. O governo reage com silêncio.
Não há nada a fazer, nada a reclamar. A Amazônia será desarborizada por madeireiras estrangeiras.
Agora, o Ibama noticia que vai vender concessões para exploração de madeira, novamente na Amazônia. Está aberta a concorrência para a devastação também por novas empresas nacionais.
O Ministério das Relações Exteriores declara em conferência internacional que o mogno, aquela linda árvore que leva muitos e muitos anos para crescer, não é espécie em extinção. Portanto, o comércio de mogno pode continuar normalmente. Se fosse considerada espécie em extinção, o comércio seria proibido e os mognos seriam deixados em paz.
Ninguém explica nada. O presidente do Partido Verde reclama na Folha que o Ministério do Meio Ambiente não deveria acumular as funções de Ministério da Irrigação. São missões conflitantes. Deve estar certo. Não seria mais grave a concessão de áreas para corte de madeira na Amazônia?
O jornalista Fernão Mesquita protestou em artigo no "O Estado de S. Paulo". E aqui estou adicionando o meu protesto.
Será que não entendemos nada de meio ambiente e cortar árvores faz muito bem para as florestas?
Sinto-me como as crianças do circo do Fuzarca e Torresmo gritando assustado -olha o macaco, olha o macaco-, enquanto as autoridades viram para cá e para lá e não dão nenhuma satisfação para tamanho risco de devastação florestal.
Deve existir uma explicação. Algum especialista deve ser capaz de dizer que a exploração de madeiras na Amazônia é muito boa para a floresta, que a torna mais saudável e mais árvores crescerão.
Ou então, que a exploração ordenada por empresas conhecidas ou em concessões autorizadas substituirá a exploração caótica e desorganizada de empresas clandestinas.
Podemos argumentar, também, que os europeus e os americanos devastaram suas florestas no passado e que agora chegou a nossa vez. Tenho certeza de que algum especialista será capaz de explicar tantas coisas inexplicáveis. É preciso cuidado com os especialistas.

E-mail: jsayad@ibm.net

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