São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 1997
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Episódio de "E.R." gravado ao vivo decepciona

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA EM AUSTIN

O episódio de estréia da quarta temporada de "E.R." foi ao ar ao vivo na última quinta para todo os EUA em duas sessões: às 20h (para a costa Leste) e às 22h (para a costa Oeste).
Com raras exceções, há décadas a TV norte-americana não vê transmissão direta de programas de ficção. Para ajudar a criar a sensação de atualidade, a TV dentro do hospital ficcional transmitia imagens também diretas de um jogo de baseball entre Cubs e Astros.
A produção funcionou para garantir que a estréia do seriado mais popular do país recebesse mais cobertura do que qualquer outro programa na semana mais quente do início da nova temporada. Mas apesar de todos os esforços, o resultado, como era de se esperar, decepcionou. O que poderia ser interpretado como ousadia não passou de jogada de marketing.
Performances ao vivo são capazes de produzir uma magia insubstituível. Mas elas dependem da densidade da atuação dos atores e de roteiros fortes. No caso de um seriado, elas poderiam ajudar a aumentar o suspense em torno de alguma situação narrativa. "E.R." não prima por nenhuma dessas características.
A força do seriado não se encontra nos roteiros. Ao contrário, a emoção é garantida por situações dramáticas fáceis, o limite entre a vida e a morte no lugar mais óbvio, o atendimento de emergência de um hospital.
A pobreza da trama é compensada por um movimento frenético de câmera e por uma edição rápida e limpa. Equipes de médicos e enfermeiros se deslocam de um lado para outro do pronto-socorro. O fotógrafo como que gira em torno do andar urgente dos personagens. Logo nos vemos diante do drama de um novo paciente.
Na tentativa de minimizar eventuais erros, o episódio ao vivo apresentou um roteiro ainda mais fraco do que o usual. O programa tratou da feitura de um documentário sobre atendimento médico para a TV pública. Difícil pensar em tema menos estimulante.
Privado de edição fina e da multiplicidade de câmeras, o rei ficou nu. As vaciladas do fotógrafo foram ao ar. O som não funcionou. Os atores não conseguiram gerar empatia. Imagine uma edição do "Aqui, Agora" sem o pretexto do acontecimento simultâneo.
Ao vivo, o programa assistido toda semana por mais de 30 milhões de norte-americanos perdeu o dinamismo superficial que os recursos eletrônicos lhe garantem. A audiência do episódio foi maior do que o usual. Resta saber se o resultado discutível vai abalar a preferência nacional.

E-mail: ehamb@uol.com.br

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