São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 1997
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Doença da vaca louca afeta humanos

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dois novos estudos comprovaram que comer carne de um animal contaminado pela doença da vaca louca causa no ser humano uma doença parecida, que destrói o cérebro.
Os estudos revelaram que a mesma linhagem do agente infeccioso -uma proteína conhecida como príon- que causou uma variante degenerativa do cérebro da doença de Creutzfeldt-Jacob (conhecida pela sigla vCJD) em seres humanos também está por trás da doença da vaca louca, a encefalopatia espongiforme bovina.
A doença afeta o cérebro do animal e causa tal descontrole motor que ele parece ter enlouquecido. Os príons são proteínas que entram na célula e mudam a conformação de uma proteína na sua membrana (superfície). O principal alvo são células do cérebro.
Essa proteína deformada transmite a deformação para outras células, criando longas fibras de proteínas e buracos no tecido cerebral. Os estudos serão publicados na revista científica britânica "Nature" da próxima quinta.
A pesquisadora Moira Bruce e seus colegas do Instituto de Saúde Animal de Edimburgo, no Reino Unido, contaminaram camundongos com tecido cerebral infectado de vacas, de pacientes com a vCJD e outros que tinham outras formas da doença de Creutzfeldt-Jacob. Também foram utilizados tecidos de fazendeiros que morreram dessa doença depois de trabalhar com gado infectado.
Os resultados da pesquisa indicaram que os sintomas, o tipo de dano nas células e o curso da doença no caso da vCJD eram iguais aos da doença bovina e distinta dos das outras formas de CJD, inclusive da que matou os fazendeiros.
Já John Collinge e seus colegas da Escola de Medicina do Imperial College, de Londres, chegaram aos mesmos resultados usando outros métodos.
Eles produziram camundongos transgênicos -modificados por engenharia genética- dotados da proteína humana que o príon converte na forma degenerada. E descobriram que esses animais adquirem a doença no cérebro depois de infectados com material contaminado bovino.
Os camundongos só ficaram doentes depois de 500 dias da infecção. O mesmo grupo de pesquisa já tinha divulgado, em 95, que a infecção não tinha se produzido após 200 dias.
A contaminação é ainda misteriosa, pois o príon dispensaria material genético, DNA (ácido desoxirribonucléico) ou o mais simples RNA (ácido ribonucléico), substâncias químicas envolvidas na transmissão de caracteres hereditários e na produção de proteínas.

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