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Filme narra dia a dia de mulheres egípcias

Documentário de Hanan Abdalla quer fugir de estereótipos para mostrar realidade feminina pós-Primavera Árabe

Produção estreia hoje em São Paulo, com debate com a diretora de 25 anos, formada em filosofia em Oxford

IARA BIDERMAN DE SÃO PAULO

A cineasta Hanan Abdalla, 25, estava no meio de um curso de cinema na Inglaterra quando largou as aulas e voou para o Egito.

Era o início da Primavera Árabe, e a filha de egípcios nascida em Londres e formada em filosofia e ciências políticas em Oxford queria estar no meio dos acontecimentos.

No Cairo, soube de um projeto da ONU para um documentário de 15 minutos sobre as mulheres no Egito e candidatou-se ao trabalho.

O resultado é o filme de cerca de uma hora sobre a vida e as ideias de Wafaa, aposentada e divorciada, a viúva e ativista Shahinda, a dona de casa Badreya, casada, e a comerciante Suzanne, solteira.

"À Sombra de um Homem" participou do festival de Berlim e foi premiado no de Doha, em 2012. Estreia hoje em São Paulo, na Mostra Mundo Árabe de Cinema, seguido de um debate com a diretora.

Do Cairo, Abdalla deu esta entrevista à Folha.

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Folha - Por que resolveu fazer o documentário?
Hanan Abdalla - Eu não queria fazer um filme sobre mulheres. Achava que era irrelevante naquele momento. Essa questão é um fetiche da mídia ocidental, mas vi que podia tratar do assunto sem cair nos estereótipos.

Quais são esses estereótipos?
Há uma imagem romantizada da mulher no Oriente Médio como se ela fosse apenas uma vítima da opressão. Ela é muito mais do que isso. O discurso sobre as mulheres oprimidas no mundo árabe toma o lugar da discussão de problemas sociais e políticos maiores, em que o "Ocidente" é parte importante. Há também uma visão imperialista nesse discurso.

Sua visão pessoal mudou durante as filmagens?
Documentários são aprendizados sobre as pessoas que você está filmando. No começo, eu queria fazer perguntas teóricas às mulheres: o que significava liberdade, se a sociedade as reprimia, esse tipo de coisa. Mas elas me levaram para um lugar muito mais íntimo, onde começaram a me contar suas histórias, as sutilezas de suas frustrações, de seus desejos e contradições. Foram elas que reenquadraram a questão para mim.

Como escolheu as quatros mulheres para o documentário?
Eu queria personagens que envolvessem emocionalmente o público. Ao contrário do que muita gente pensa, há uma certa "seleção de atores" nos documentários. Eu já conhecia duas delas, Badreya e Wafaa, com seu senso de humor muito particular. Escolhi Shahinda por ser uma ativista conhecida no Egito. Quem me apresentou Suzanne foi uma amiga, que a conheceu na praça Tahrir. Quando Suzanne me disse que tinha rompido o noivado para participar dos protestos, eu soube que ela tinha que ser a quarta mulher do filme.

Como vê a situação do Egito?
O mais perigoso é a simplificação em dois lados, os "do mal" e as "vítimas", como faz a imprensa local e internacional. Temos que recusar o maniqueísmo que diz que ou são os religiosos fascistas ou são os militares fascistas que vão nos governar.

Qual é o seu projeto atual?
Estou na pós-produção de "Battle Box", um documentário sobre três mulheres que concorreram a uma vaga no novo Parlamento. Com a onda de violência que começou depois das eleições, elas tiveram de escolher que partido tomar. A questão central do filme --o que é mais democrático, as urnas ou as ruas --nunca foi tão relevante.


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